segunda-feira, dezembro 26, 2005

com a palavra: ANGÉLICA


Querida Teresa, seu blog está me fazendo um bem enorme.
É o encontro com a literatura. É o encontro com a gente mesmo.
Fala daquilo que a gente quer falar e provoca em nós uma espécie
de salvação. Somos salvos por assumir nossas próprias paixões. Quando
a palavra nos toca por dentro, ela nos libera para nós mesmos, e nos torna capazes
de nos perceber vivendo. É a "catarsis" . Desde sempre, desde Sófocles
buscamos na literatura não só um deleite mas a própria salvação.

É dela também a sugestão da poesia de Carlos Drummond de Andrade:

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Bravo, Angélica!

Aguardo mais colaborações para o blog / espaço aberto: NASCI PARA BAILAR

2 comentários:

Anônimo disse...

Amiga,
há dias que amamos o Vinícius,
há outros que precisamos ler Drummond,
em outros, com Bilac, queremos ouvir estrelas!...
Esse "mix" é o tesouro do seu Blog.
Abraços.

Teresa Genesini disse...

Angélica,
estou adorando sua interação. Enriquece e democrariza o blog.

Valeu!