quarta-feira, dezembro 14, 2005

ANTROPOFAGIA


Começa hoje a programação do EIA - Encontro Internacional de Antropofagia, aqui em S. Paulo, organizado pelo José Celso Martinez Correa. `Na Folha de S. Paulo de hoje tem uma matéria sobre esse movimento. Transcrevo aqui a fala do norte-americano Christopher Dunn (professor da Universidade de New Orleans e autor do livro "Brutality Garden; Tropicália and the Emergency of a Brazilian Counterulture").

Acho que a antropofagia continua a ser um conceito atual para artistas que lidam com questões da diferença, mistura de linguagens, intertextualidade e multiculturalismo. Estamos vivendo um momento terrível, com a ascensão do neoimperialismo criminoso dos EUA e o crescimento de fundamentalismos religiosos, que Oswald de Andrade teria chamado de "baixa antropofagia".

Acho que essa interpretação vale também para a psicanálise, que lida com as diferenças, com a singularidade.

E para homenagear esse movimento criado pelos modernistas, deixo aqui uma parte do poema MANHÃ, de Mário de Andrade, publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia (maio de 1928)

...Tinha um sossego tão antigo no jardim,
Uma fresca tão de mão lavada com limão
Era tão marupiara e descansante
Que desejei... Mulher não desejei não, desejei...
Si eu tivesse a meu lado ali passeando
Suponhamos, Lenine, Carlos Prestes, Gandhi, um desses!...

Na doçura da manhã quase acabada
Eu lhes falava cordialmente: - Se abanquem um bocadinho
E havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixes
Ou descrevia Ouro Preto, a entrada de Vitória, Marajó,
Coisa assim que puzesse um disfarce de festa
No pensamento dessas tempestades de homens.

Lindo!!!

A programação vai até sábado, no Sesc Pompéia, à tarde e à noite, com shows de música, palestras, leituras, teatro. Participam José Miguel Wisnick, Jorge Mautner, Zé Celso (do Brasil), e muitos outros.

Veja toda a programação no site: www.antropofagia.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

"Na doçura da manhã quase acabada".

Precisava hoje ouvir esta beleza!

Um bálsamo!