quinta-feira, dezembro 13, 2007

A CONVERSAÇÃO


O que é uma conversação?

Não é o bla-bla-bla dos amigos, das comadres, a conversa fiada que rola no boteco inspirada pelo chopp.

A conversação é exercício do espírito através da palavra dialogada. Sua base foi Atenas, seu promotor, Sócrates.
Entrar em conversação é, a partir de Platão, deixar esses modos bárbaros do discurso para entrar no natural da palavra humana e reconquistar sua luminosidade.

Na semana passada, tivemos a terceira conversação clínica do IPLA e Projeto Análise, coordenada por Jorge Forbes, em São Bento do Sapucaí. Foram quatro dias intensos, de discussão, interação, pensamento e recriação da nossa clínica psicanalítica. Uma experiência que toca o corpo - impossível sair de uma conversação ileso, sem uma marca, sem um pedaço.

Jorge Forbes conceitua:

Um grupo fundado em torno a um ideal é distinto do estabelecido por uma causa. Uma equipe de futebol, por exemplo, é um grupo marcado por um conjunto ideal: a camisa do time e sua história; a cidade, estado, ou país que representa; o objetivo de ser o melhor entre todos, de ganhar o campeonato, de subir no mais alto do pódio, o mais perto do ideal. Serve ao lema dos mosqueteiros: “um por todos, todos por um”. Pode-se fotografar o time ideal, os jogadores uniformizados e a taça brilhante no meio.

Um grupo fundado em torno a uma causa é disparatado em seu cenário. São muitos os caminhos que demonstram o excesso, a causa. O lema é o do o um a um do particular sempre renovado, pois o todo é- não do empate -um a um incompleto. Não há como fotografar uma comunidade causada, pois a inércia da pose anula a causa. A causa se deduz depois, como resultado do movimento.

O alicerce do grupo ideal é o reconhecimento: seus participantes usam uniforme para facilmente se reconhecerem nas condições mais variadas e difíceis. O uniforme auxilia o jogador, na zona do agrião, para saber a quem passar a bola; ajuda o soldado assustado a reconhecer de longe, desde sua trincheira, o amigo ou o inimigo.

O fundamento do grupo causado não é o reconhecimento mútuo, do branco e do preto, do amigo ou do inimigo, do irmão ou do estrangeiro; o fundamento é o mais repetido e menos utilizado affectio societatis, base de suporte das diferenças na convivência da mesma causa.

Eu comparo a conversação ao making of de uma filmagem, de uma gravação. Um processo que se constrói, que foge ao controle - o final é sempre imprevisível.

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