quarta-feira, dezembro 12, 2007

A CONVERSAÇÃO SEGUNDO FUMAROLI

Da multiplicidade dos interlocutores, de suas divergências, de suas dissensões, o espírito de Sócrates consegue compor uma rosácea onde algo da unidade inacessível do verdadeiro emerge e, nele, uma felicidade de uma qualidade que nenhum gozo e nenhuma posse mundana poderia igualar.


É o que diz Marc Fumaroli, membro da Academia Francesa e professor no prestigiado Collège de France, especializado na Renascença e na idade clássica francesa. (Ele redigiu várias contribuições para Les Lieux de Mémoire, uma das quais sobre a conversação, geralmente considerada uma especialidade francesa.)


Leia uma entrevista de Fumaroli sobre Conversação

Label France: A arte da conversação é uma arte francesa?'

Marc Fumaroli: É uma arte que nos vem em primeiro lugar da Antigüidade. Cícero escreveu belíssimos textos sobre o termo, a palavra trocada na intimidade de uma relação amigável entre pessoas de ação letradas. Essa idéia romana ressurge na Renascença, na Itália, onde são publicados os primeiros tratados dessa arte muitas vezes acompanhados de conselhos práticos. Não foi portanto por acaso que ela contribuiu, no século XVII, para a introdução em Paris do que chamei de uma família romana. Além disso, ela pertencia, por casamento, ao mundo da diplomacia, nessa época fortemente marcada pelo modelo italiano.

Quando essa arte atingiu seu apogeu na França?

O grande século vai dos anos 1630 ao final do Antigo Regime (1789). Mas o século XIX vai tentar novamente fazer as pazes com essa tradição graças a duas mulheres, Madame de Staël e a que Sainte-Beuve classificou de "madona da conversação", Madame Récamier. Balzac, Barbey d'Aurevilly e o pintor Delacroix, em seu Diário, ilustram bem esse espírito mas, assim mesmo, com essa preocupação de fazer apelo aos grandes antigos, como se já estivesse em busca de uma idade de ouro perdida.

A conversação não é também uma arte menor e mesmo uma arte - arriscando a palavra - fútil?

No século XIX, um debate póstumo opôs Sainte-Beuve e Proust, o primeiro tendo a conversação como uma atividade literária por inteiro, enquanto que o segundo a considerava um divertimento que distancia o artista de sua busca interior. Ela é fútil? Os preconceitos têm sete fôlegos. No século XVII, Mademoiselle de Scudéry, a grande dama do preciosismo, mostrou-se uma mulher de grande profundidade, para quem a conversação respondia a uma verdadeira filosofia. Esta última aliás inspirou o filósofo Leibnitz, grande admirador de Mademoiselle de Scudéry. Por que não dizer? A conversação tem tudo hoje para ser reabilitada.


(Entrevista concedida a Daniel Bermond para a revista Label France, jan/1998)

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