sábado, maio 27, 2006

O ESPÍRITO DA DÁDIVA


O laço através do dom, da generosidade, da amizade, da troca.

Esse é o meu tema hoje. A importância dessas relações. É esse tipo de laço social, essa rede de relações, cimentadas pelo dom e pela entre-ajuda, a única coisa que permite a sobrevivência num mundo louco.

Essa é a idéia do livro O ESPÍRITO DA DÁDIVA de Jacques T. Godbout, que me foi apresentado por um grande amigo numa situação especial, muito importante pra mim.

A idéia central do livro é que "dar, transmitir, retribuir e que a compaixão e a generosidade são tão essenciais como tomar, apropriar-se ou conservar, como a inveja ou o egoísmo".

O que é "dar o sangue por alguém, por uma causa"?

No livro, o autor se volta para Aristóteles, como o maior teórico do dom - para ele, a amizade repousa sobre a capacidade de dar e retribuir, sobre a reciprocidade.

Eu volto-me para Jorge Forbes.

Sobre a amizade:
Hoje, a amizade se tornou selo de excelência. Em um mundo sem garantias, de imprevisão e da necessidade de criar, a amizade permite o passo em direção à convivência das diferenças. A amizade cultiva o que temos de incomum, mais além das críticas e dos elogios. Um amigo espera de nós o inusitado a cada encontro, e nos chama a animar a relação não pelo que é normal, mas pelas vias do nosso desejo.

Sobre a compaixão:
A posição psicanalítica é de que a vida não tem remédio.A psicanálise não defende a compaixão, mas a antepõe à responsabilidade amorosa. A compaixão está em oposição às emoções tônicas – perde-se força quando se compadece. A compaixão piora o padecimento que a vida já traz. A compaixão é contagiosa.À compaixão arma-se em favor dos desarmados e condenados da vida e pela multidão de malogrados de toda espécie que mantém firme o pavio – dá à vida mesma um aspecto sombrio e problemático.

Sobre o sucesso:
Chegar ao sucesso é um problema; suportá-lo, sim, suportá-lo é um problema muito maior. Depende da pessoa conseguir passar a estruturar a sua identidade no seu desejo e não mais no olhar do outro.

Sobre o elogio:
As pessoas ficam hipnotizadas ao serem insultadas. Ao contrário do elogio, que é sempre questionável, o insulto não deixa dúvida sobre seu alvo. Há uma tendência a dar peso de verdade ao insulto e a desconfiar do elogio.

Sobre a psicanálise:
A psicanálise não tem boas respostas. Ela sempre quer analisar e tem sim, sempre boas perguntas. Fazer análise hoje não é saber mais a seu próprio respeito, mas poder mudar a relaçào com o que não se sabe, perder a expectativa de tudo vir a saber e saber apostar sobre esse não saber. Portanto a psicanálise de hoje é a psicanálise do futuro".

Sobre o desejo:
Ah, mas não é nada fácil o exercício da expressão do querer. A pergunta: "Você quer o que deseja?" é uma das mais difíceis de responder.

Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim....

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