terça-feira, julho 05, 2005

A COMPAIXÃO

Assisti neste domingo, no Café Filosófico da TV Cultura, uma palestra de Jorge Forbes sobre A Compaixào. Foi muito boa. Tanto, que fiz um resumo para colocar nesse meu espaço cultural:

Rousseau definia compaixão como a simpatia pela tragédia do outro, pela infelicidade alheia.
Houaiss define compaixão como sentimento piedoso pelo pesar do outro.
Hoje, ter compaixão não é ter simpatia. Compaixão está vinculada à dor e ao sofrimento.Ela tem efeito depressivo. Esse sentimento leva à idéia que pra tudo tem remédio.
O psicanalista pensa o contrário: não há problema que uma falta de solução não resolva. Se para tudo houvesse remédio, seria possível traduzir completamente a essência de cada um no outro, num remédio, numa bula, numa tecnologia, qualquer coisa. A posição psicanalítica é de que a vida não tem remédio.
A psicanálise não defende a compaixão, mas a antepõe à responsabilidade amorosa.
Nietzsche já dizia: “Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro.”
Lacan disse: “Desconfie das ciladas da compaixão, daquilo que nos impele de fazer mal ao outro...eu sinto pelo outro para não ter que sentir em mim”....
Nietzsche e Lacan se contrapõem a Rousseau.
E o homem obsessivo tem necessidade de se manter no exercício de uma compaixão falsa, de um altruísmo falso. Aí aparece a angústia, que é a presença de algo não especularizável: a pedra no meio do caminho. O obsessivo só se preocupa com a perfeição, não se arrisca, não se expõe, deixa o outro escolher e outra pessoa, muitas vezes sua mulher, tem a função de recobrir essa pedra no meio do caminho.
A compaixão está em oposição às emoções tônicas – perde-se força quando se compadece. A compaixão piora o padecimento que a vida já traz. A compaixão é contagiosa.À compaixão arma-se em favor dos desarmados e condenados da vida e pela multidão de malogrados de toda espécie que mantém firme o pavio – dá à vida mesma um aspecto sombrio e problemático.
E por que a compaixão é vista com mais seriedade que a simpatia? Porque temos a tendência de dar mais peso e verdade à dor e ao xingamento que a alegria, a felicidade e o elogio. Quem elogia é visto sempre como um bajulador e, quem insulta, é aplaudido. Porque a angústia é tanta, o medo de não conseguir ser seduzido é tanto, que é preferível ser insultado.
Se a simpatia não tem o mesmo poder da compaixão é porque a simpatia perdeu a ligação com a dor. O desbussolamento da globalização vai ver crescer as situações de compaixão.
Estamos numa época favorável a transformar a compaixão como cimento do laço social e fazer dela uma virtude. Para fazer isso nós fixamos as pessoas num laço imaginário, retirando delas a possibilidade de se responsabilizarem pelo incompleto da vida.
Há porém, outros caminhos preferíveis. Há uma ética mais próxima a todos nós, em que cada um dê uma resposta, que é a não solução, que é a responsabilidade da invenção.



Um comentário:

Anônimo disse...

Você está cada dia melhor !
Sua sinópse diz tudo .
Parabéns .
Angélica