segunda-feira, janeiro 07, 2008

LE MARIAGE DE FIGARO

Logo no hall de entrada do teatro estão as estátuas de Moliére e de Beaumarchais.

Entrar nesse teatro é participar da história.

Viva Moliére!
Viva Beaumarchais!





O personagem de Fígaro foi criado por Beaumarchais (Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais), professor de música das filhas do Rei Luís XV. Caron escreveu, nos finais do século XVIII, três comédias para teatro: O Barbeiro de Sevilha (1775), As Bodas de Fígaro (1784) e A Mãe Culpada (1792), partilhando as duas primeiras obras mencionadas à personagem de Fígaro. Beaumarchais tinha uma sólida posição económica que lhe permitia efetuar muitas viagens, nomeadamente a Espanha, em 1764. A obra, O Barbeiro de Sevilha, foi transformada em ópera por Giovanni Paisielo, em 1782, cuja estreia foi em São Petersburgo. Mais tarde, foi orquestrada para uma outra ópera, com o mesmo nome, por Rossini.
As Bodas de Fígaro foram imortalizadas pela ópera, em quatro atos, de Wolfgang Amadeus Mozart, estreada em 1786, em Viena, com libreto em italiano, escrito por Lorenzo da Ponte. Esta história é uma continuação da vida de Fígaro, iniciada em O Barbeiro de Sevilha, na qual Fígaro é barbeiro e, inteirando-se dos amores do Conde de Almaviva e de Rosina, decide uni-los através de um plano.
Músico e inventor, homem de negócios e político refinado, diplomata e comerciante de armas, editor, polemista, libertino e homem de letras... Beaumarchais é a imagem de seu século: um homem versátil apaixonado pela liberdade, os conhecimentos e a ação. Um filme - Beaumarchais, I’insolent -, lançado com sucesso em março de 1996 na França, interpretado pelo fabuloso Fabrice Luchini, narra sua vida.
Luchini encarna um Beaumarchais difícil de se apreender, com seus defeitos e qualidades, talentoso mas às vezes decepcionante, infiel e mutante. O ator possui a ousadia e o brio do personagem, sua loucura latente e sua audácia cheia de vivacidade. Seguindo a linha do filme acompanhamos a corrida pela glória, pela fortuna e pela felicidade de um homem situado na encruzilhada das grandes aventuras do século XVIII e no ponto de encontro de duas épocas: a do Antigo Regime em seus últimos dias e a moderna, que será inaugurada com a Revolução de 1789.

Embora sem dúvida tenha havido exagero, retrospectivamente, quanto ao papel de As bodas de Fígaro na deflagração da Revolução Francesa, esta última via na peça um símbolo da oposição ao arbítrio e aos abusos. E é inegável que as aventuras do criado Fígaro refletem bem o espírito contestatório da época e as aspirações do Terceiro Estado, que iria fazer a Revolução. No entanto, Beaumarchais não era nem teórico nem revolucionário. Filho de um relojoeiro da burguesia parisiense culta e ele próprio relojoeiro, Beaumarchais se tornará nobre através do primeiro casamento e ingressará na corte como professor de harpa das filhas de Luís XV. Ambicioso e oportunista, ele disputará sempre os encargos e as honras. Suas peças testemunham dessa forma o crescimento do poder da burguesia, de quem ele expressará, por intermédio de seu dublê Fígaro, o desejo de ascensão social e reconhecimento político numa sociedade sitiada.

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