domingo, novembro 27, 2005

ESQUIZOFRENIA


Conheci Jerry durante uma entrevista de pacientes. Ele dizia que era amigo de Paul McCartney e Bob Dylan. Cantou um trecho da música “Satisfaction”, dos Rolling Stones, durante a entrevista. Ao mesmo tempo falava de judeus e nazistas, Jesus Cristo, Churchill e Stálin, um general da segunda guerra. Sou o mais alto do mundo, mais alto que o muro de Berlim. Doutor me dá essa alta e eu fico contente. Preciso sair um pouco, refrescar um pouquinho.
Hoje vi meu pai por aí. Ontem falei com ele por telefone. Seu pai havia morrido cerca de dois anos atrás, foi assassinado. Mas ele não admitia: Não perdi meu pai, ele está vivo, dizia. Vou pegar a Rua Brigadeiro Luis Antonio, num apartamento que ele tem lá com a amante. Vou procurar ele lá. Minha mãe, uma dama da sociedade. Os nazistas ameaçaram chicoteá-la e depois tiraram o tesão dela. Ele informa que seu problema começou na adolescência. Fumava muita maconha e bebia também. Faz tratamento desde os 7 anos. Quando “aumentou o corpo”, por volta dos 15 anos, teve sua primeira internação. Chegou a receber choque elétrico na cabeça por falar muito palavrão. Atirou-se do terceiro andar de um prédio, quando tinha 21 anos. Sua mãe chorava e dizia “Tem que morfinar”, conta ele. Diz que gosta de beber cerveja, música e filmes. Em casa vê TV, ouve música, conversa, passeia. Anda pelo bairro durante o dia. Queixa-se que as pessoas o maltratam na rua.
Agora recebeu alta.
Vai começar uma nova caminhada, diz Jerry.
Com chopp e cigarro.
Sou fazendeiro, não sou judeu. Sou mais feliz que Stálin.

Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones.......


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