quarta-feira, julho 08, 2009

A PSICANÁLISE NÃO INTERPRETA MICHAEL JACKSON


A psicanálise não interpreta; são os artistas que nos interpretam - que fazem a gente pensar diferente, ver o mundo diferente. Eu não interpreto Michael Jackson, disse Jorge Forbes, ao ser entrevistado por Mônica Waldvogel, na Globo News, na noite da cerimônia de despedida de Michael Jackson, num ginásio com mais de 20.000 pessoas em Los Angeles.

Depois da emoção do funeral - o espetáculo divulgado no mundo todo - fica fácil cair na babaquice das explicações e justificativas, no reducionismo de achar que o fenômeno Michael Jackson se explicaria pelo pai tirano e pela infância perdida.

Só um psicanalista como Jorge Forbes poderia chacoalhar nossas certezas com suas frases :

A psicanálise serve para lembrar que pessoas como Michael Jackson - que são a arte encarnada - são elas que nos interpretam, que nos comovem. Essa tentativa de encarcerar Michael numa figura qualquer patológica é ruim, mesmo quando é ele quem faz isso.

Todos nós temos um interrogante em nós, sabendo que sempre existe um descompasso entre o que se sente e o que se diz. A gente vive desse descompasso. Os artistas vivem isso mais claro e têm a tarefa, a responsabilidade de sustentar isso.

O meu Michael Jackson não é o seu, nem o da filipina, nem o da japonesa, nem o do americano. Isso explica a comoção mundial: porque ele não é de ninguém. E como ele não é de ninguém, cada um de nós pode ter o seu Michael Jackson e cada um pode fazer com ele uma história diferente.

O que faz uma obra de arte ser imortal, um quadro ser imortal, um livro ser imortal, é exatamente o fato dele escapar sempre a todas as tentativas cognocíveis de apreendê-lo. Michael Jackson é isso. A meu ver, é um dos últimos mitos do mundo pós-moderno.

Antigamente tínhamos, como hoje, uma grande platéia para uma pessoa. Agora teremos pequenas platéias para muitas pessoas. É o processo conhecido como cauda longa - uma grande distribuição de artistas para inúmeros grupos.

Michael Jackson morreu no momento em que iria retornar. Cada um de nós ficará com uma idéia do show que ele não fez. Ele morreu no momento da esperança, o que contribui no envolvimento de todos nós, pois, todos sonhamos juntos o momento desse show em Londres.

Todo talento é alguma coisa que nos diferencia do grupo. As pessoas fazem análise para suportarem as suas qualidades; as pessoas tem que se responsabilizar pelo seu desejo sem se preocupar com a expectativa do outro e inventar seu modo de vida.

O artista mostra a necessidade a cada um de nós suportar a singularidade. Isso não é fácil. Há pessoas, como Pelé, que suportam melhor o seu talento, e outros que suportam mal - são os mascarados. Muitos perde suas carreiras por suportarem mal seu talento.

Hoje o mundo está de luto. Nós perdemos a maior expressão da música popular do século. Nós ficamos de luto sem sabermos exatamente o que perdemos e nós tentamos, de alguma maneira, emplacar Michael Jackson, engessá-lo, de alguma maneira.

Cada um tem duas opções nesta vida: ou você consegue se responsabilizar por sua singularidade, ou, você vira genérico. Se você suportar o desentendimento, suportar o mau entendimento, suportar a angústia desse mundo sem padrões, suportar a singularidade, então sua possibilidade de se manter nesse ponto é muito maior.

Nesse momento atual, da globalização, estamos numa outra relação com os heróis. Eles sempre existirão. Antes, o herói era um exemplo a seguir. Hoje, o herói não é aquele que entrega a vida a grandes causas. O herói será aquele que nos iterrogará, que nos fascinará, que nos equivocará e nos mostrará algo diferente e diverso como Michael Jackson.

Uma grande análise. Um excelente programa.

Se você perdeu, ou quer ver de novo, o programa será reprisado hoje, quarta-feira, às 11:30h e às 17:30h - na Globo News - canal 40.

O vídeo já está disponível. Confira:


Um comentário:

andrea teixeira disse...

sempre que termina o programa fico com vontade de quero mais e adoro por que sei que no seu blog eu terei. bjs, andrea