domingo, julho 05, 2009

BALANÇO DA FLIP


As mesas que mais gostei da FLIP 2009 foram Chico Buarque / Miltom Hatoum e Antonio Lobo Antunes. Domingos de Oliveira também se destacou.


Miltom Hatoum falou de seu livro ÓRFÃOS DO ELDORADO - resultante de histórias de Manaus que ficaram em sua memória (Miltom é de Manaus). Foi um livro encomendado que devia ter aproximadamente 25.000 palavras / 100 páginas. Quando se deu conta o livro já tinha 200 páginas. Milton fez um esforço para reduzí-lo - teve que repensar o livro e escrever um romance mais curto. A persongem principal, Dinaura, lembra muito Matilde, a personagem de LEITE DERRAMADO.

Chico Buarque diz que seu livro é conciso - teria 20 páginas se não fosse a repetição, que faz parte do estilo. O mote do livro, contou Chico, foi a música "Velho Francisco", música de sua autoria. Começou a pensar no livro ao ouvi-la na interpretação de Mônica Salmaso.

A conversa e as histórias desses dois escritores foi um grande momento da festa literária deste ano.

Ántonio Lobo Antunes, português, médico psiquiatra que virou escritor - tem 24 livros publicados - a grande surpresa da FLIP. Foi entrevistado por Humberto Werneck, que participou na FLIP do ano passado com seu livo O SANTO SUJO - comentado aqui no blog como um dos livros que mais gostei nesse ano. Uma mesa deliciosa, com o título ESCREVER É PRECISO - uma verdadeira aula de escrita, da paixão pela arte de escrever.

Lobo Antunes tem uma boa relação com o Brasil - seus avós paternos vieram para Belém do Pará no século XIX e ele mergulhou na literatura brasileira desde então. O primeiro poeta que leu aqui foi Manoel Bandeira. Escrevia escondido de sua mãe. Um dia seu avô lhe perguntou: _ Ouvi dizer que você escreve versos. Você é veado?. Diz-se conhecedor da poesia brasileira, mas não tem boa relação com a prosa: " Assim que começo a ler quero corrigir tudo". Anotei algumas de sua frases interessantes:

Todo livro é uma reflexão profunda sobre a arte de escrever.
Jorge Amado era muito maior que seus livros.
Um livro é um organismo vivo.
Quando escreve, você tem que ter uma mão feliz. Se ela é feliz, o livro sai.
Só vale a pena escrever se você acha que está escrevendo uma obra prima.
Escrever é, sobretudo, corrigir o que já escreveu.
Temos que escrever para a eternidade.
É um desafio escrever um livro que você acha que não será capaz de escrever.
É preciso tirar a gordura, escrever cada vez mais no osso.
Nunca deixe para o dia seguite uma frase com ponto final; é mais fácil de continuar.
Se alguém quer ser escritor tem que ver como o Garrincha chuta a bola.
O escritor tem que trabalhar 10 horas por dia: 2 horas para escrever e 8 horas para corigir.
O nome do leitor é que devia estar escrito na capa do livro.
Livro bom é aquele que foi escrito só para mim.
Escrevo um livro para corrigir o anterior. Ficamos sempre aquém daquilo que escrevemos; então o melhor é escrever outro livro.
O trabalho de editar é um trabalho arriscado, um trabalho difícil.
Um problema é saber quando um livro está acabado. É como uma mulher que deixa de gostar de você - ela fica num canto da cama e não deixa ser tocada por você. Um livro está terminado quando você não consegue mais corrigi-lo.


Clique no link para saber mais de Lobo Antunes: http://www.ala.nletras.com/

Reality Show - exibicionismo, exposição, invasão de privacidade, limite entre público e privado - foram temas também desta FLIP. Fizeram parte desse estilo na FLIP deste ano: Catherine Millet, Sophie Calle, Gregoire Bouillier e Gay Talese.

Sophie Calle se expõe e expõe seus parceiros. O jornalista Gregoire Bouillier, adepto da vida pública, terminou seu romance com ela enviando-lhe um e-mail. Sophie divulgou esse email e fez uma obra sobre o acontecido. Vieram a público, na FLIP, discutir sua relação.



Gay Talese, americano filho de italianos, jornalista e escritor, era um dos grandes nomes da FLIP. Famoso por seu jornalismo literário - realista (novo jornalismo) e suas crônicas como "Frank Sinatra está resfriado", teve um boa participação na FLIP. Mas a exposição de sua relação com sua editora e mulher deixam-no na categoria reality show. É a arte do excesso, dos novos modelos da globalização.



E a pior mediadora foi Maria Rita Khel, que deixou a escritora Catherine Millet - que transformou sua vida privada em pública - sem saber do que se tratava a entrevista. Não consegui ver até o final essa mesa de domingo - a mediadora a tornou insuportável. Vai aqui um alerta aos organizadores: os mediadores devem ser escolhidos com muito cuidado. Falar em "retorno do recalcado" - lacanês de quinta categoria num evento literário popular é inadmissível!!!

O melhor programa - ouvir Maria Martha, no Café Margarida.

O melhor point - Café Paraty. Pelo lugar; pelo pastel de camarão ou bacalhau; pelo arroz de polvo e pela banda de rock de Paulo Meyer.



Até a FLIP 2010 !!!!

7 comentários:

Viviane Setti disse...

Querida Teresa,

tomo a liberdade de chamá-la de querida porque a generosidade com que vc divide suas vivências , faz com que me sinta tão próxima à vc.
Adoro receber seu blog e vivenciar todas essas experiências maravilhosas....o único perigo é perder a hora dos meus compromissos ,fato que me levou a reservar um momento especial para recebê-la sem pressa e com um gostozo cafézinho !
Bjs e obrigada,

Maria Cecília disse...

Olá Teresa,

Gostei muito de acompanhar com você os acontecimentos!

Beijos

Maria Cecilia

Patrícia disse...

Teresa,
Olá como vai?
Gostei muito das notícias da FLIP.
Obrigada, Patrícia

Ana Cristina disse...

Teresinha,
O corte chanel te caiu muito bem, adorei!
Seu blog é uma delícia , vale por uma revista de entretenimento. E de quebra acompanhamos a família. Sua filha, Letícia, está uma moça linda. Parabéns!
Saudades
Bjs para você
Tina

Liége disse...

Teresa querida.

Me emocionei ao ver-ler-viajar em seu Blog.
Nada mais você para selar literatura e amizade.

Abç. Liége.

Alain Mouzat disse...

Teresa querida,
Que beleza a reportagem ao vivo que vc oferece.
Beijo e boa FLIP.
Alain

FLIP disse...

Querida Teresa,

muito gostoso ler o seu blog...
Só nos faz ter mais saudade desta FLIP e torcer para que a FLIP 2010 chegue logo!
Tenha a certeza de que a realização deste grande evento só é possível graças a pessoas com a sua generosidade.

Obrigado pelo balanço!

Um abraço,
equipe FLIP.