As mesas que mais gostei da FLIP 2009 foram Chico Buarque / Miltom Hatoum e Antonio Lobo Antunes. Domingos de Oliveira também se destacou.
Miltom Hatoum falou de seu livro ÓRFÃOS DO ELDORADO - resultante de histórias de Manaus que ficaram em sua memória (Miltom é de Manaus). Foi um livro encomendado que devia ter aproximadamente 25.000 palavras / 100 páginas. Quando se deu conta o livro já tinha 200 páginas. Milton fez um esforço para reduzí-lo - teve que repensar o livro e escrever um romance mais curto. A persongem principal, Dinaura, lembra muito Matilde, a personagem de LEITE DERRAMADO.
Chico Buarque diz que seu livro é conciso - teria 20 páginas se não fosse a repetição, que faz parte do estilo. O mote do livro, contou Chico, foi a música "Velho Francisco", música de sua autoria. Começou a pensar no livro ao ouvi-la na interpretação de Mônica Salmaso.
A conversa e as histórias desses dois escritores foi um grande momento da festa literária deste ano.
Ántonio Lobo Antunes, português, médico psiquiatra que virou escritor - tem 24 livros publicados - a grande surpresa da FLIP. Foi entrevistado por Humberto Werneck, que participou na FLIP do ano passado com seu livo O SANTO SUJO - comentado aqui no blog como um dos livros que mais gostei nesse ano. Uma mesa deliciosa, com o título ESCREVER É PRECISO - uma verdadeira aula de escrita, da paixão pela arte de escrever.
Lobo Antunes tem uma boa relação com o Brasil - seus avós paternos vieram para Belém do Pará no século XIX e ele mergulhou na literatura brasileira desde então. O primeiro poeta que leu aqui foi Manoel Bandeira. Escrevia escondido de sua mãe. Um dia seu avô lhe perguntou: _ Ouvi dizer que você escreve versos. Você é veado?. Diz-se conhecedor da poesia brasileira, mas não tem boa relação com a prosa: " Assim que começo a ler quero corrigir tudo". Anotei algumas de sua frases interessantes:
Todo livro é uma reflexão profunda sobre a arte de escrever.
Jorge Amado era muito maior que seus livros.
Um livro é um organismo vivo.
Quando escreve, você tem que ter uma mão feliz. Se ela é feliz, o livro sai.
Só vale a pena escrever se você acha que está escrevendo uma obra prima.
Escrever é, sobretudo, corrigir o que já escreveu.
Temos que escrever para a eternidade.
É um desafio escrever um livro que você acha que não será capaz de escrever.
É preciso tirar a gordura, escrever cada vez mais no osso.
Nunca deixe para o dia seguite uma frase com ponto final; é mais fácil de continuar.
Se alguém quer ser escritor tem que ver como o Garrincha chuta a bola.
O escritor tem que trabalhar 10 horas por dia: 2 horas para escrever e 8 horas para corigir.
O nome do leitor é que devia estar escrito na capa do livro.
Livro bom é aquele que foi escrito só para mim.
Escrevo um livro para corrigir o anterior. Ficamos sempre aquém daquilo que escrevemos; então o melhor é escrever outro livro.
O trabalho de editar é um trabalho arriscado, um trabalho difícil.
Um problema é saber quando um livro está acabado. É como uma mulher que deixa de gostar de você - ela fica num canto da cama e não deixa ser tocada por você. Um livro está terminado quando você não consegue mais corrigi-lo.
Clique no link para saber mais de Lobo Antunes: http://www.ala.nletras.com/Reality Show - exibicionismo, exposição, invasão de privacidade, limite entre público e privado - foram temas também desta FLIP. Fizeram parte desse estilo na FLIP deste ano: Catherine Millet, Sophie Calle, Gregoire Bouillier e Gay Talese.
Sophie Calle se expõe e expõe seus parceiros. O jornalista Gregoire Bouillier, adepto da vida pública, terminou seu romance com ela enviando-lhe um e-mail. Sophie divulgou esse email e fez uma obra sobre o acontecido. Vieram a público, na FLIP, discutir sua relação.Gay Talese, americano filho de italianos, jornalista e escritor, era um dos grandes nomes da FLIP. Famoso por seu jornalismo literário - realista (novo jornalismo) e suas crônicas como "Frank Sinatra está resfriado", teve um boa participação na FLIP. Mas a exposição de sua relação com sua editora e mulher deixam-no na categoria reality show. É a arte do excesso, dos novos modelos da globalização.
E a pior mediadora foi Maria Rita Khel, que deixou a escritora Catherine Millet - que transformou sua vida privada em pública - sem saber do que se tratava a entrevista. Não consegui ver até o final essa mesa de domingo - a mediadora a tornou insuportável. Vai aqui um alerta aos organizadores: os mediadores devem ser escolhidos com muito cuidado. Falar em "retorno do recalcado" - lacanês de quinta categoria num evento literário popular é inadmissível!!!
O melhor programa - ouvir Maria Martha, no Café Margarida.O melhor point - Café Paraty. Pelo lugar; pelo pastel de camarão ou bacalhau; pelo arroz de polvo e pela banda de rock de Paulo Meyer.
Até a FLIP 2010 !!!!
domingo, julho 05, 2009
BALANÇO DA FLIP
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7 comentários:
Querida Teresa,
tomo a liberdade de chamá-la de querida porque a generosidade com que vc divide suas vivências , faz com que me sinta tão próxima à vc.
Adoro receber seu blog e vivenciar todas essas experiências maravilhosas....o único perigo é perder a hora dos meus compromissos ,fato que me levou a reservar um momento especial para recebê-la sem pressa e com um gostozo cafézinho !
Bjs e obrigada,
Olá Teresa,
Gostei muito de acompanhar com você os acontecimentos!
Beijos
Maria Cecilia
Teresa,
Olá como vai?
Gostei muito das notícias da FLIP.
Obrigada, Patrícia
Teresinha,
O corte chanel te caiu muito bem, adorei!
Seu blog é uma delícia , vale por uma revista de entretenimento. E de quebra acompanhamos a família. Sua filha, Letícia, está uma moça linda. Parabéns!
Saudades
Bjs para você
Tina
Teresa querida.
Me emocionei ao ver-ler-viajar em seu Blog.
Nada mais você para selar literatura e amizade.
Abç. Liége.
Teresa querida,
Que beleza a reportagem ao vivo que vc oferece.
Beijo e boa FLIP.
Alain
Querida Teresa,
muito gostoso ler o seu blog...
Só nos faz ter mais saudade desta FLIP e torcer para que a FLIP 2010 chegue logo!
Tenha a certeza de que a realização deste grande evento só é possível graças a pessoas com a sua generosidade.
Obrigado pelo balanço!
Um abraço,
equipe FLIP.
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