domingo, novembro 30, 2008


Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar (Saramago).

A consistência dos sonhos - José Saramago

Fui na abertura da exposição, no Intituto Tomie Otake, na noite de 28 de novembro.

Ouvi o discurso de Saramago e visitei a exposição. Ele dizia que ali estavam partes de sua vida que nem ele se lembrava mais e que graças à sua mulher, Pilar del Rio, a exposição se concretizou.

Um cerco se fazia em torno dele, com sguranças, para que os convidados não chegassem perto do escritor. Uma incoerência - Saramago não é uma celebridade, é um intelectual notável; ninguém o atacaria ali, muito menos seus convidados. Achei lastimável essa performance em torno de um escritor ganhador de prêmio Nóbel, tão querido no Brasil!

Prefiro ficar com a lembrança dos seus livros - O ano da morte de Ricardo Reis, o que mais gostei de todos que li, seguido de O evangelho segundo Jesus Crsito.

Saramago lança ainda no Brasil, nestes dias, seu último livro: A VIAGEM DO ELEFANTE.

A exposição vai até 15 de fevereiro de 2009.

Entre no site de Saramago: http://www.facom.ufba.br/com024/saramago/


Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.


(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

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