sábado, agosto 02, 2014

A 12ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

FLIP 2014
Cinco dias de imersão literária

Começou na última quarta-feira, 30 de julho, a 12ª Festa Literária Internacional de Paraty, que vai até domingo.
Os ingressos para o maior evento – a tenda dos autores – acabaram nos primeiros trinta minutos de venda, há um mês do início da FLIP. É literalmente uma festa. A cidade fica lotada, todos querem ver e serem vistos. Os escritores são tratados como pop-star – filas gigantescas por um autógrafo, selfies com seu autor favorito, posts no facebook, instagram – cada um vale-se do que tem à mão para fazer parte da festa. E tudo colabora para deixar a festa mais linda: o mar, a lua, as ruas de pedras irregulares, a arquitetura e a história da cidade, os bares, a noite, o jeitinho brasileiro de se aproximar do “artista”, a festa que termina sempre em encontro.
Neste ano, duas novidades: o show de abertura, com Gal Costa, um presente à cidade e ao público, no meio da praça.
O show foi um acontecimento: Gal continua encantando com sua beleza e graça. Mas faltou um brilho, algo que se perdeu. Ouvi-la cantando Baby, Folhetim, Dom de iludir, O amor, Dia de domingo, Força estranha, Gabriela – nos transportou para um tempo e uma voz daquela Gal Fatal que ficou na lembrança.
A segunda novidade: pela primeira vez na sua história, a Festa Literária Internacional de Paraty homenageia um autor contemporâneo e que ainda participou da primeira edição da FLIP, em 2003: Millôr Fernandes.
Millôr morreu em março de 2012, aos 88 anos. Foi jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, argumentista, tradutor, inventor do frescobol e se definiu como “medalha de ouro no concurso para si mesmo”. Num momento de tanta agitação política, um nome como Millôr vem a calhar. Ninguém como ele criticou com humor a política brasileira e deixou frases que ficarão na lembrança:
“Se é gostoso faz logo, amanhã pode ser ilegal”.
“Uma coisa, pelo menos, é positiva: a violência no mundo inteiro aumentou consideravelmente nosso conhecimento de Geografia”.
“Tristezas não pagam dívidas. Nem bravatas, por falar nisso”.
“Pra fazer uma boa teoria é preciso muita prática”.
“A verdade não é só mais incrível que a ficção como é muito mais difícil de inventar”.
“A verdade é aquilo que sobra depois que você esgotou as mentiras”.
“A vida é incurável”.
A homenagem ao escritor ficou por conta do crítico de arte Agnaldo Farias, que  também inovou: em vez de fazer uma conferência sobre o homenageado, analisou uma série de desenhos, caricaturas, colagens e pinturas de Millôr. Em seguida, um bate-papo com Jaguar – um dos fundadores do Pasquim – e os humoristas Hubert e Reinaldo – do grupo “Casseta & Planeta”. Faltou animação nessa roda, faltou Millôr.
A lista dos convidados para a programação principal é extensa e composta por escritores, jornalistas, cineastas, fotógrafos, arquitetos, pensadores brasileiros e estrangeiros. Dentre os convidados, Paulo Mendes da Rocha – prêmio Pritzker de arquitetura em 2006 – traz um olhar especial acerca da cidade. “Estamos aqui para ocupar os espaços de modo transgressor, se possível”; vê a cidade como sedução espacial. Freud, em “O Mal-estar na civilização” fala da inadequação entre o homem e o mundo. Paulo insiste que a arquitetura tem como base essa inadequação, o conflito. Em sua conferência na quinta-feira, Mesa 4 da Tenda dos Autores, falou sobre a importância de convivermos com o conflito, que nisso está a maravilha da cidade e que progresso nenhum anulará esse conflito. Foi a melhor conferência desse dia da FLIP.
Outro convidado que vai chacoalhar as opiniões a respeito da comida é o jornalista americano e professor de Berkeley, Michael Pollan, que escreveu um livro para dizer “Coma comida. Não em excesso. Vegetais, sobretudo”. Cacá Diegues, Edu Lobo, Fernanda Torres vão falar sobre cinema, música e literatura. Muitos outros escritores disputarão os aplausos e listas de autógrafos, nessa festa que promete trazer mais público que as anteriores. A programação completa da FLIP pode ser consultada aqui: http://www.flip.org.br/flip2014.php
Qual será o resultado dessa jornada literária? Frequentei quase todas as edições, em muitas fiquei em êxtase, e em outras me aborreci profundamente com os mediadores – ora por sua limitação, ora por quererem aparecer mais que o escritor convidado.
A FLIP é sempre uma surpresa, sempre vale a pena.
E, como disse Jorge Forbes, “por tudo isso, e mais, vou à FLIP, até se for para não gostar. Aprende-se muito quando se tenta explicar a discordância”.

Nenhum comentário: