domingo, junho 29, 2014

OBSESSÃO INFINITA - YAOI KUSAMA


A exposição OBSESSÃO INFINITA de Yaoi Kusama, no Instituto Tomie Ohtake atrai milhares de pessoas desde seu início. É a primeira restrospectiva dessa grande artista na América Latina. Suas repetições transformadas em arte - as bolinhas, as redes, os falos - são apresentados em pinturas, esculturas e instalações.
Yaoi nasceu no Japão, em 1929. Mudou-se para Nova York em 1957 e retornou para o Japão em 1973, onde continua criando. "Artistas não costumam expressar seus próprios complexos psicol[ogicos diretamente, mas eu adoto meus complexos e medos como temas. Fico aterrorizada só ao pensar que algo longo e feio como um falo me penentre, e é por esse motivo que construo tantos falos... Eu construo muitos e muitos deles e então continuo construindo, até que me enterro no processo. A isto dou o nome de 'obliteração' " - diz Yaoi Kusama.





As redes, os pontilhados, lembram os laços sociais hoje - tão feagilizados, descontínuos e ao mesmo tempo em rede, horizontais. Vale a pena conferir essa exposição que fica em cartaz até 27 de julho.





sexta-feira, junho 27, 2014

O LOBO ATRÁS DA PORTA



O filme O LOBO ATRÁS DA PORTA trata de pessoas comuns vivendo dramas comuns. o que seria incomum é a reação das pessoas, cada vez mais violenta. E não se trata de pessoas doentes, psicopatas, trata-se de pessoas comuns, iguais a mim, iguais a você. E é isso que assusta. É o que Jorge Forbes chama de novos sintomas, no caso, o que nomeou como "epidemia de medéias". A personagem principal não para frente a nada - vai até o fim para  se vingar - com uma frieza impressionante.

"Como vivemos em uma sociedade que passou por uma desregulamentação, que não tem mais uma norma clara, temos de aumentar o botão da responsabilidade subjetiva. É bom que nos assustemos com esses crimes, porque, sim, nós somos parecidos com os criminosos. Qualquer pessoa está fragilizada e pode ter reações intempestivas." - diz Jorge Forbes em entrevista à ÉPOCA Negócios.

O filme dirigido por Fernando Coimbra prende a atenção do início ao fim, com excelentes intrerpretações de Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fabiula Nascimento. Vale conferir.

Veja o trailler:

quinta-feira, junho 12, 2014

O AMOR PEDE CORPO

Ela é perfeita. Ela é carinhosa de manhã à noite e, ainda por cima, ela é desligável...  Mas o amor, como sempre, pede mais e esse mais é o corpo. Por Jorge Forbes



“O corpo dos amantes é o que não tem nome nem nunca terá, base de todos os cantos” – afirma o PSICANALISTA. 

O AMOR PEDE CORPO

Jorge Forbes


Ela é perfeita.
Ela é tudo o que aquele homem queria. Uma verdadeira Amélia eletrônica. Ela faz a agenda dele, responde a seus e-mails a tempo e a hora, põe em ordem os seus textos, faz a lista do supermercado com requintes de plano econômico, avisa dos remédios a tomar, dos compromissos. Ela é carinhosa de manhã à noite e, ainda por cima, ela é desligável - fantasia masculina - com um simples toque na tela. Ela é um sistema operacional.
“Ela” é um dos últimos grandes sucessos do cinema, indicado recentemente a cinco Óscares, tendo ganhado pelo roteiro original.
Simplesmente Ela, pois sendo um sistema operacional, Ela sintetiza todas. Ela é uma mulher completa, ah! as mulheres completas..., e o fascina por isso.
O amor progride entre a mulher toda e o homem carente. As barreiras da estranheza dele, por se ver apaixonado por uma máquina, vão sendo vencidas pela eficiência de Ela. Como trocar Ela por elas? Não, ele fica embevecido.
Mas o amor, como sempre, pede mais e esse mais é o corpo. Encore, en corps, diria Lacan, em trocadilho que realça a homofonia, em francês, de “ainda” com “no corpo”. Ela, sempre brilhante, bola um estratagema para resolver o impasse virtual do amor, do qual eles sofrem. Contrata um corpo de aluguel, na esteira das barrigas de aluguel. Um corpo de aluguel para fazer às vezes dela, junto a ele.
Toca a campainha na casa dele e Ela aparece travestida em uma moça que, fascinada pela história impossível do amor deles, se oferece a ser comandada por Ela, através de um fone de ouvido, nas artimanhas dos jogos amorosos sexuais, com ele. Claro que não dá certo essa estranha encorporação. Mulheres se tomam uma a uma, mas isso o sistema operacional não sabia.
Frustração dele e dela. Aumentada quando ele descobre o óbvio, a saber, que Ela, naquele momento, estava fazendo viver o mesmo a mais de mil homens. Imagine ser traído com mais de mil! Só mesmo computador.
Tomando o filme como metáfora, vai aí uma resposta às inquietações dos pais de hoje, ao verem seus filhos de olhos colados nas telinhas eletrônicas. Podem se tranquilizar, a internet não vai abolir o encontro corporal, ao contrário. A multiplicidade de contatos virtuais exaure, cansam por seu aspecto ilimitado. No virtual pode tudo e o pode tudo vai contra o desejo, eliminando-o. Sem desejo as pessoas não se recriam, não se reinventam, viram genéricas, aborrecidas. O ser humano precisa de um corpo. Curiosamente é no encontro dos corpos que nos estranhamos, e não em sua distância. E esse estranhamento é o que provoca as declarações de amor, tentativas de por em palavras o que sentimos sem saber. O que será que será que não tem nome, nem nunca terá? Pergunta o poeta. A resposta é: o corpo dos amantes é o que não tem nome nem nunca terá, base de todos os cantos.
Parodiando Mallarmé: jamais um sistema operacional abolirá o corpo. Fiquem tranquilos e assistam Ela. É uma boa inspiração. 

sábado, junho 07, 2014

NELSON RODRIGUES: MYRNA SOU EU

Myrna sou eu - peça de Nelson Rodrigues, em que Myrna - pseudônimo de Nelson - responde, em um programa de rádio, cartas enviadas pelas ouvintes.

É o consultório sentimental de Nelson Rodrigues, num monólogo de Nilton Bicudo, sob a direção de Elias Andreato. Em cartaz no teatro Eva Herz, da Livraria Cultura do Conjunto Nacional - SP.

Nelson escreveu crônicas no jornal Correio da Manhã, durante muitos anos, com o pseudônimo de Myrna. A editora Nova Fronteira editou um livro com essas crônicas intitulado MYRNA - Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo.

A peça é excelente - interpretação e direção notáveis! O sarcasmo, humor e ironia de Nelson Rodrigues são ingredientes desse texto inteligente do filósofo do cotidiano brasileiro. Impossível não notar um viés psicanalítico no pensamento rodriguiano.

Algumas frases marcantes desse texto:

- Quando tinha 17 anos pensava do amor maravilhas ..... Depois, quando me apaixonei, descobri a mais estranha das verdades: não havia entre o meu amor e a felicidade a menor relação..... Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo.

- Você sabe qual é o tremendo erro da maioria absoluta das mulheres? - achar que o fato de amar implica, obrigatoriamente, a felicidade.

- Quando uma mulher apaixonada se queixa, eu tenho vontade de fazer-lhe esta pergunta: "Não lhe basta amar? Você quer, ainda por cima, ser feliz?"

- O destino, quando concede a graça inefável do amor, subtrai uma série de outras coisas. Antes de mais nada o sossego.

- Sofrer pela criatura amada não é um mal, é quase um bem. Você conhece tristezas mais lindas, mais inspiradoras, do que as tristezas do amor?

- Não há pior solidão do que estar mal-acompanhado.

- Sofrimento, maior ou menor, é inseparável do amor. Impossível amar sem sofrer. E quando não há motivos concretos, a pessoa os inventa.

- Em amor, ninguém tem direito de exigir nada.

A peça entra em recesso durante a Copa do Mundo e volta no final de julho. Não perca !