Segue o texto na íntegra:
Limites
do impossível
Os desafios do Ironman e das competições de
longa distância
Leticia
Genesini
Neste último domingo, 25 de Maio, apaixonados
por triátlon assistiram Igor Amorelli cruzar a linha de chegada do Ironman
Brasil, em Floripa, tornando-se o primeiro atleta brasileiro a vencer o
percurso. 3,8 km de natação, 180 km de pedalada, e uma maratona (42,2 km) – este
é o esforço exigido para clamar para si o admirado título de Ironman,
demandando uma boa dose de coragem e uma impensável dose de loucura.
Para Igor e o restante da elite a prova
representa a chance de um pódio que garante o título, a vaga para a final do
Ironman em Kona, e ainda 15 mil dólares. Mas, e para os 2000 participantes
amadores que estão lá para competir com a própria sombra? Que não somente sabem
que não possuem chance alguma de vitória, mas que pagaram para se expor a este
sofrimento às sete da manhã de um domingo? Que ímpeto impossível é capaz de reunir
2000 pessoas neste ato de loucura? Nem ao menos se pode dizer que se trata de
uma loucura espontânea e impulsiva, já que por meses e meses esses
atletas acordaram em horários indecentes para conseguirem encaixar com
fidelidade seus longos treinos antes de seguir com as obrigações usuais. Pelo
contrário, trata-se de uma loucura meticulosamente planejada, uma batalha
cuidadosamente traçada contra moinhos de vento.
E para
quê? Testar os limites do corpo? Também. Mas não se enganem, a exaustão de uma
prova de 226 km não desafia as pernas e os músculos, mas sim o peito. Se são 226
km que o corpo deve percorrer diligentemente resistindo à fadiga, são também 226
km entre linha de partida e a linha de chegada; 226 km de oportunidades em que
a mente pensa – plena de razão - a cada passo, a cada curva, a cada marca de
quilometragem, em desistir, enquanto o coração – sem razão alguma – resiste. Simplesmente resiste, sem porque ou
porém, pois este é um reino em que a razão não ecoa: é uma prova de paixão.
E é este
o resto, a soma, a prova dos 9, que é compartilhada por todos, seja ele o
atleta de elite ou o estreante, - a realização de enfrentar o imponente absurdo
e sair vitorioso, armado apenas de uma impossível loucura. É o exercício da
certeza que declara: exatamente porque o absurdo da vida não concede uma razão,
suas sem-razões também não bastam para frear.
Letícia
Genesini é escritora, designer e corredora aficcionada. Publicou os livros de
poesia "umponto" e "entre" pela editora 7letras.Siga-a no
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