O Café Filosófico convocou a psicanálise para analisar a questão do envelhecimento nos tempos atuais: Jorge Forbes fez uma conferência - debate com o título: "Velhice para que te quero?" na sexta-feira, 25 de maio, na CPFL Cultura - Campinas, SP, dizendo como a psicanálise responde a essa questão saindo do lugar comum.
Forbes começou com esses versos de William Shakespeare:
O mundo inteiro é um palco
E todos os homens e mulheres não passam de meros atores
(Shakespeare)
Forbes descreve as 7 etapas da vida apresentadas pelo poeta - em que o ápice da vida era aos 40 anos de idade.
Em seguida lembra Heideger: um minuto de vida é idade suficiente para morrer.
JF continua: Uma preocupação do homem é saber o nome da morte. Para desenvolver esse raciocínio traz as 5 éticas/categorias trabalhadas por Luc Ferry:
1) A vida é natural: Para os gregos o mundo não deveria ter dúvida porque somos seres naturais - tal qual uma goiabeira, cada um de nós devia encontrar seu lugar na natureza e se ajustar.
2) O pensamento natural foi substituído pelo pensamento religioso - que oferecia outra vida após a morte e nos fazia todos iguais. Pressupõe a fé.
3) Uma nova transcendência que não seja a natureza e nem o Deus: o iluminismo. O saber - a razão - é colocado no lugar do divino. Quanto mais velho, o homem é mais erudito, mais feliz e mais sábio.
4) A era da desconstrução: todos os valores desmoronam. O filósofo Nietzsche pega seu martelo e quebra tudo.
5) A etapa final a que chegamos hoje. E com ela a pergunta: Há um saber para essa desconstrução? Há um modo de lidar com a morte? Luc Ferry propõe um novo humanismo - um novo laço social, que não é o religioso, nem a natureza e nem o iluminista. Jorge Forbes fala de um novo amor (Lacan falou disso, de um novo amor, no Seminário 20 - Encore) - um novo laço social que pede IR - Invenção e Responsabilidade.
Nietzsche instituiu o "amor fati" - o amor ao destino. Lacan fala do "´c'est ça" (é isso). Quando se chega ao "é isso" não há mais para quem se queixar. Todos nós nos vemos através do outro social, somos levados a responder ao outro social. Chega-se ao`"é isso" quando deixamos de fazer concessão ao outro social. Traduzindo em miúdos: fazemos concessão ao outro social pelo medo do ridículo - a resposta já foi dada pelo poeta (... todas as cartas de amor são ridículas (...) mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas ...).
Forbes dá três exemplos de velhos que inventaram um jeito singular de lidar com a velhice:
- Oscar Niemayer (104 anos) - continua trabalhando, criando e começou a aprender piano. Esqueceu de morrer!
- Fernando Henrique Cardoso (80 anos) - em seu último livro, "A soma e o resto", questiona o poder que ele mesmo exerceu.
- Chico Buarque (67 anos) - lançou um novo CD em que brinca com a diferença entre ele e a moça amada, como na canção "Essa pequena": ... meu tempo é curto e o tempo dela sobra, meu cabelo é cinza e o dela é cor de abóbora, mas sou tão feliz com ela ... http://youtu.be/ZRLayH21Gnk
Eles não tem medo do rídículo: não é ridículo aprender a tocar piano aos 100 anos; não é ridículo dizer que a capital não é Brasília, que está em todos os lugares; não é ridículo amar uma jovem de cabelos vermelhos quando seus cabelos são cinza ...
(JF lembra Roberto Carlos falando da música Detalhes: o importante é que enquanto eu canto os meus detalhes, vocês cantem os seus).
Esses três homens (Niemayer, FHC e Chico) mantiveram a dúvida viva; inventaram soluções singulares. O mundo de hoje exige singularidades; quando não temos mais modelos temos pessoas - é uma questão de mudança de paradigma.
O velho não deve se acomodar à nomeação da morte. O novo velho é alguém que não foge do encontro, da surpresa, é alguém que suporta a contradição. Que tem uma postura ética - a responsabilidade por sua singularidade. Que não se preocupa com a compreensão, mas que o sentido faça um novo sentido para ele, que ressoe em você, que te toque. Tá ligado?
Foi uma noite memorável !!!
Você pode ver aqui o vídeo na íntegra da gravação do Café Filosófico: clique aqui "velhice para que te quero?"
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