quarta-feira, julho 13, 2011

O MELHOR DA FLIP 2011


Ir à FLIP é um programa que não dispenso - faz parte do meu calendário. Mesmo que seja para dizer - não gostei! Mas, eu sempre gosto!

A cidade de Paraty é o cenário ideal para essa festa literária - todos caminhando na rua principal e cruzando a ponte rumo à tenda dos autores. Milhares de pessoas discutindo as palestras, os pontos de vista, os livros lançados pelos autores convidados, muitos eventos paralelos, restaurantes deliciosos e bons shows de música. Para mim nada melhor que Maria Marta - a cantora nascida em Campos do Jordão - que canta no Café Margarida, uma das melhores intérpretes de Paulo Vanzolini.

Como disse Jorge Forbes em suas Flipídicas: A Flip é como Ipanema, tem suas musas renováveis a cada ano.

P
orém, eu tenho os meus preferidos de cada ano e por isso, aqui vai minha lista dos melhores da FLIP 2011:

Zé Miguel Wisnik, Celso Sim e Elza Soares - o melhor show de abertura de todas as Flips.

legal o pout-pourri do show seguido por depoimento de valter hugo mãe neste vídeo:



valter hugo mãe (em minúsculas, como ele prefere) - foi o ponto alto da FLIP.

Sensível, carismático, soube seduzir e emocionar a platéia - chorei e ri ao mesmo tempo. Foi ovacionado por todos e sua mesa comentada durante toda a semana. Algumas frases dele:

O momento de escrever é o momento da salvação - é sempre o melhor tempo do meu tempo.

A presença de Pessoa é tão grande que nos emudece e nos responsabiliza.

Os livros são máquinas de criar sentimentos, como quadros de fantasmas vivos.

E o momento mais emocionante, quando leu uma carta aos brasileiros. Veja no Youtube:




Gonzalo Aguilar - um argentino que falou com muita propriedade sobre o modernismo, em especial sobre Oswald e o movimento antropofagista.

Comparou o quadro de Tarsila do amaral - ABAPORU com a escultura de Rodin - O PENSADOR.

Enquanto no Pensador, de Rodin, o forte é a cabeça; no Abaporu, de Tarsila, o forte é o pé - um ponto de confluência com Lacan, que privilegiava os pés, o fazer, para depois teorizar.

Frases de Gonzalo:

O que define o homem ocidental é a vergonha.

O presente é que vai inventar o passado.

Ao referir-se à frase de Oswald: "tupi or not tupi - that is the question" diz: A questão é ser ou não ser índio, assumir ou não o primitivo - não o primitivo do passado, ms o atual, essa idéia da imanência.

Luiz Felipe Pondé - brilhou ao debater com o cientista Miguel Nicolélis, que se sente maior que Deus ao querer fazer do homem um superhomem. Pondé nomeou essa tentativa de Nicolélis de eugenia.

Frases de Pondé:

A idéia que a gente vai construir um lugar que não existe, melhor do que aqui, além do humano, é um escândalo (citando Platão).

O sofrimento te encontra; a vida humana é a tentativa de escapar dele, do sofrimento.

A fronteira entre ciência e religião nunca foi distante. Ciência e religião sempre se cruzam.

A ciência é uma esperança: se Deus fracassou, o homem vencerá.

Enrique Krauze - que junto com Octávio Paz, no México, criaram a revista literária Vuelta, uma de minhas leituras preferidas quando vivia lá. Paz morreu em 1998 e desde então Krauze fundou a revista Letras Livres. Ao todo são 36 anos vivendo ao "calor do momento" servindo à democracia e à paixão pela literatura.

Claude Lanzmann - o amante de Simone de Beauvoir e personagem de uma rica história de vida foi motivo de polêmica na FLIP. Falou sobre Shoah, o filme de 9 horas que fez sobre Israel e das artimanhas para driblar os patrocinadores que queriam que ele fizesse em 2 anos um filme de 2 horas - que no final levou 9 anos com duração de 9 horas. " Eu tinha que inventar o tempo todo meios para convencer as testemunhas - isso demora muito tempo." O entrevistador, ávido por mostrar que tinha grande conhecimento da sua vida e de sua obra não deixava que o autor falasse do livro de memórias que estava lançando na FLIP - A lebre da Patagônia. Lanzmann perdeu a calma e chegou a falar ríspido com o moço: se não fossem falar do livro ele se levantaria e iria embora. Um ranzinza de carteirinha, mas delicioso!

Suas frases:

O tempo para mim nunca cessou de nunca passar.

Shoah é um filme sobre a radicalidade da morte nas câmaras de gás em campos de extermínio.

O tempo nos obriga a esquecer tudo, mas é preciso lutar.

Joe Sacco - escreve livros em forma de HQ (histórias em quadrinho). Ele diz que embora escreva sobre a guerra está interessado nos civis, em como eles sobrevivem. Está interessado em saber como as vidas das pessoas são afetadas pela guerra, pois muitas perdem suas casas, os filhos não podem frequentar escolas - são os civis que morrem nas guerras. Mas, o humor está sempre presente, diz, nem que seja o humor negro. As pessoas usam o humor para aliviar a tensão, o que não quer dizer que não seja difícil, que não fiquem deprimidas.


Frases de Joe Sacco:

A memória, muitas vezes, é a única forma de se construir a história.

As pessoas inventam suas memórias; mas você pode descobrir coisas nas entrelinhas.

O jornalismo americano é obcecado pela objetividade.

Poder escrever de uma forma muito envolvente, sobre questões sérias, é o que me atraiu em George Orwell.

David Byrne - o músico do Talking Heads que começou a usar bicicleta como meio de transporte desde os anos 80 em New York e depois virou escritor.

Não gostei da sua palestra, mas adorei os trechos de filmes famosos com cenas de bicicleta que ele apresentou no início de sua palestra. Alguns dos quais reconheci: Cinema Paradiso, Mágico de Oz, A vida é bela, Noviça Rebelde, ET.

Comprei seu livro (Diários de bicicleta) e espero que seja legal - ainda não li.

Os livros que comprei na FLIP deste ano:
  • Os redentores - idéias e poder na América Latina (Enrique Krauze)

  • Os três mosqueteiros (Alexandre Dumas)

  • Os melhores jovens escritores em espanhol (Granta)

  • Dália negra (James Ellroy)

  • Diários de bicicleta (David Byrne)

  • Notas sobre Gaza (Joe Sacco)

  • A lebre da Patagônia (Claude Lanzmann)

  • Shoah (Claude Lanzmann)

  • A máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)

  • O remorso de baltazar serapião (valter hugo mãe)

Já estou com saudades dessa FLIP. Mas a de 2012 deverá ser memorável - basta ver quem será o homenageado: Carlos Drummond de Andrade. Viva a FLIP !


Nenhum comentário: