quinta-feira, julho 28, 2011

ARENA DI VERONA - VA PENSIERO - JULIAN KOVATCHEV



A noite de 27 de julho de 2011 - Arena di Verona - foi memorável. Nabucco - de Giuseppe Verdi. MARAVILHOSO !!!!!

O dia apresentou umas pancadas de chuva, mas parecia que a cota já tinha se esgotado. Fomos para a Arena, mas, logo no segundo ato começa a chuviscar.


A orquestra começou a se retirar, pois os instrumentos podem ser danificados pela chuva - tivemos um primeiro intervalo com a torcida de milhares de espectadores para a chuva parar.

O vento deslocou a chuva e a ópera recomeçou. Mas, não por muito tempo - e assim foi - desde o início às 21:15h, pontualmente, até quase 2h da madrugada, quando saímos maravilhados daquele lugar.

Um momento de muita emoção: O povo começou a cantar a ária Va Pensiero num desses intervalos com a chuva maltratando a platéira, "ola", palmas, tudo o mais para não deixar a alegria ir embora e incentivar os artistas a voltarem.


O maestro Julian Kovatchev foi incansável. Era uma alegria vê-lo saindo e entrando em cena com seu lindo sorriso e comandando a orquestra de corpo e alma. No final do último intervalo, com medo que a chuva nos maltratasse mais, foram direto para a cena dos escravos cantando em coro a música tão esperada. Pedimos bis e num silêncio estonteante todos se emocionaram e vibraram novamente com Va Pensiero - quase um hino italiano.


Veja aqui um vídeo dessa interpretação, que Julian publicou no facebook



Depois dessa epopéia, um jantar na praça em frente à Arena. Uma delícia a sensação dessa noite - para coroar, uma troca de palavras com Julian. Seria possível sua vinda ao Brasil? Por que não?

Para quem ainda não foi ver: A temporada de ópera vai até 3 de setembro. Vale a pena ir !


Uma dica de um hotel muito legal, com bom preço e ótima localização, ao lado da Arena, é o Hotel Giulieta e Romeo. É a segunda vez que me hospedo lá e a satisfação é cada vez maior.


Veja algumas fotos dessa ópera no site da Arena: clique aqui.


Que belo programa!

segunda-feira, julho 25, 2011

ANISH KAPOOR - MILÃO 2011




Há duas exposições de Anish Kapoor em Milão: My red homeland - na Rotonda di via Besana (31 de maio a 9 de outubro de 2011) e Dirty Corner - na Fabrica del Vapore (31 de maio 2011 a 8 de janeiro de 2012).



Ver essas exposições foi um dos motivos que me trouxe a Milão nesse verão europeu.

A exposição da Rotonda de Via Besana impressiona pelo vermelho - a cor que tem uma profunda escuridão interior - diz Kapoor numa entrevista. No grande salão da Rotonda, cercam a obra principal esculturas de espelhos que nos fazem colocar em cheque nossa visão, nossas certezas. As reações são as mais diversas - eu ria muito e pensava em como as fantasias podem emergir e mudar tudo em nós.

A exposição da Fabrica del Vapore é composta por uma peça única - Dirty Corner - um túnel com uma abertura imensa que vai afunilando no seu interior cada vez mais escuro e empoeirado - abertura de 3 metros de diâmetro, embocadura de 7 metros e 57 metros de comprimento. A sensação é muito estranha - penetrar esse vazio e sentir o silêncio. Chega a lembrar a experiência analítica - uma experiência singular.

Kapoor considera essa obra masculina (a forma fálica) e feminina (a embocadura similar a uma vagina e o interior como um útero). Ele nos mostra os pares de opostos: vazio/cheio, escuridão/luz, masculino/feminino, positivo/negativo, material/imaterial.

No final há uma sala com apresentação de um vídeo de 22 minutos com Kapoor falando do seu trabalho, da sua busca, da experiência que quer propor com sua arte. Gostei tanto que vi duas vezes seguidas. Ele fala da experiência do abismo em sua obra - não aquele da nossa vida externa que não conhecemos, mas aquele que conhecemos da nossa vida interna. Ele se interessa por mostrar sempre o momento. Fala da fantasia que se refletem nos objetos, mas que não são objetos e continua na busca de encontrar alguma coisa super sensual.






















Vale a pena conferir. Ainda há tempo: programe-se!

Nesse vídeo podemos ver algumas peças que estavam na Rotonda:

sábado, julho 23, 2011

AMY WINEHOUSE - WILL YOU STILL LOVE ME TOMORROW

Amy Whinehouse testou todos os limites - a morte venceu, como só podia ser.

Para lembrar dela: Will you still love me tomorrow

quarta-feira, julho 20, 2011

VALTER HUGO MÂE - NAS ENTRELINHAS


Nesta entrevista para o programa "Entrelinhas", valter hugo mãe fala sobre seus livros, lê trechos dos dois livros que lançou na FLIP e termina com uma tomada de sua fala na mesa da FLIP.

Adorei esse trecho do final do vídeo:

Os livros não são autobiografias na partida, mas são autobiográficos na chegada. Antes são sempre histórias sobre os outros, mas depois são sempre histórias nossas. São sempre experiências nossas e uma oficina de amadurecimento nosso. Por isso, aquilo que eu escrevi, aquilo que eu contei, já sou eu também.

Confira neste vídeo do youtube:

segunda-feira, julho 18, 2011

ARENA DI VERONA - NABUCCO


A temporada de ópera Arena di Verona está em pleno vapor. Vou assistir Nabucco nessa temporada, que homenajeia Verdi - considerado um dos maiores compositores de ópera de Milão.

Verdi estreou essa ópera no Teatro alla Scala de Milano, a 9 Março 1842 - um enorme sucesso!

A linda área Va Pensiero, cantada pelo coro dos escravos, é uma das mais conhecidas no mundo da ópera, aqui interpretada por Pavarotti e Zucchero.

Boa viagem !!!

quarta-feira, julho 13, 2011

O MELHOR DA FLIP 2011


Ir à FLIP é um programa que não dispenso - faz parte do meu calendário. Mesmo que seja para dizer - não gostei! Mas, eu sempre gosto!

A cidade de Paraty é o cenário ideal para essa festa literária - todos caminhando na rua principal e cruzando a ponte rumo à tenda dos autores. Milhares de pessoas discutindo as palestras, os pontos de vista, os livros lançados pelos autores convidados, muitos eventos paralelos, restaurantes deliciosos e bons shows de música. Para mim nada melhor que Maria Marta - a cantora nascida em Campos do Jordão - que canta no Café Margarida, uma das melhores intérpretes de Paulo Vanzolini.

Como disse Jorge Forbes em suas Flipídicas: A Flip é como Ipanema, tem suas musas renováveis a cada ano.

P
orém, eu tenho os meus preferidos de cada ano e por isso, aqui vai minha lista dos melhores da FLIP 2011:

Zé Miguel Wisnik, Celso Sim e Elza Soares - o melhor show de abertura de todas as Flips.

legal o pout-pourri do show seguido por depoimento de valter hugo mãe neste vídeo:



valter hugo mãe (em minúsculas, como ele prefere) - foi o ponto alto da FLIP.

Sensível, carismático, soube seduzir e emocionar a platéia - chorei e ri ao mesmo tempo. Foi ovacionado por todos e sua mesa comentada durante toda a semana. Algumas frases dele:

O momento de escrever é o momento da salvação - é sempre o melhor tempo do meu tempo.

A presença de Pessoa é tão grande que nos emudece e nos responsabiliza.

Os livros são máquinas de criar sentimentos, como quadros de fantasmas vivos.

E o momento mais emocionante, quando leu uma carta aos brasileiros. Veja no Youtube:




Gonzalo Aguilar - um argentino que falou com muita propriedade sobre o modernismo, em especial sobre Oswald e o movimento antropofagista.

Comparou o quadro de Tarsila do amaral - ABAPORU com a escultura de Rodin - O PENSADOR.

Enquanto no Pensador, de Rodin, o forte é a cabeça; no Abaporu, de Tarsila, o forte é o pé - um ponto de confluência com Lacan, que privilegiava os pés, o fazer, para depois teorizar.

Frases de Gonzalo:

O que define o homem ocidental é a vergonha.

O presente é que vai inventar o passado.

Ao referir-se à frase de Oswald: "tupi or not tupi - that is the question" diz: A questão é ser ou não ser índio, assumir ou não o primitivo - não o primitivo do passado, ms o atual, essa idéia da imanência.

Luiz Felipe Pondé - brilhou ao debater com o cientista Miguel Nicolélis, que se sente maior que Deus ao querer fazer do homem um superhomem. Pondé nomeou essa tentativa de Nicolélis de eugenia.

Frases de Pondé:

A idéia que a gente vai construir um lugar que não existe, melhor do que aqui, além do humano, é um escândalo (citando Platão).

O sofrimento te encontra; a vida humana é a tentativa de escapar dele, do sofrimento.

A fronteira entre ciência e religião nunca foi distante. Ciência e religião sempre se cruzam.

A ciência é uma esperança: se Deus fracassou, o homem vencerá.

Enrique Krauze - que junto com Octávio Paz, no México, criaram a revista literária Vuelta, uma de minhas leituras preferidas quando vivia lá. Paz morreu em 1998 e desde então Krauze fundou a revista Letras Livres. Ao todo são 36 anos vivendo ao "calor do momento" servindo à democracia e à paixão pela literatura.

Claude Lanzmann - o amante de Simone de Beauvoir e personagem de uma rica história de vida foi motivo de polêmica na FLIP. Falou sobre Shoah, o filme de 9 horas que fez sobre Israel e das artimanhas para driblar os patrocinadores que queriam que ele fizesse em 2 anos um filme de 2 horas - que no final levou 9 anos com duração de 9 horas. " Eu tinha que inventar o tempo todo meios para convencer as testemunhas - isso demora muito tempo." O entrevistador, ávido por mostrar que tinha grande conhecimento da sua vida e de sua obra não deixava que o autor falasse do livro de memórias que estava lançando na FLIP - A lebre da Patagônia. Lanzmann perdeu a calma e chegou a falar ríspido com o moço: se não fossem falar do livro ele se levantaria e iria embora. Um ranzinza de carteirinha, mas delicioso!

Suas frases:

O tempo para mim nunca cessou de nunca passar.

Shoah é um filme sobre a radicalidade da morte nas câmaras de gás em campos de extermínio.

O tempo nos obriga a esquecer tudo, mas é preciso lutar.

Joe Sacco - escreve livros em forma de HQ (histórias em quadrinho). Ele diz que embora escreva sobre a guerra está interessado nos civis, em como eles sobrevivem. Está interessado em saber como as vidas das pessoas são afetadas pela guerra, pois muitas perdem suas casas, os filhos não podem frequentar escolas - são os civis que morrem nas guerras. Mas, o humor está sempre presente, diz, nem que seja o humor negro. As pessoas usam o humor para aliviar a tensão, o que não quer dizer que não seja difícil, que não fiquem deprimidas.


Frases de Joe Sacco:

A memória, muitas vezes, é a única forma de se construir a história.

As pessoas inventam suas memórias; mas você pode descobrir coisas nas entrelinhas.

O jornalismo americano é obcecado pela objetividade.

Poder escrever de uma forma muito envolvente, sobre questões sérias, é o que me atraiu em George Orwell.

David Byrne - o músico do Talking Heads que começou a usar bicicleta como meio de transporte desde os anos 80 em New York e depois virou escritor.

Não gostei da sua palestra, mas adorei os trechos de filmes famosos com cenas de bicicleta que ele apresentou no início de sua palestra. Alguns dos quais reconheci: Cinema Paradiso, Mágico de Oz, A vida é bela, Noviça Rebelde, ET.

Comprei seu livro (Diários de bicicleta) e espero que seja legal - ainda não li.

Os livros que comprei na FLIP deste ano:
  • Os redentores - idéias e poder na América Latina (Enrique Krauze)

  • Os três mosqueteiros (Alexandre Dumas)

  • Os melhores jovens escritores em espanhol (Granta)

  • Dália negra (James Ellroy)

  • Diários de bicicleta (David Byrne)

  • Notas sobre Gaza (Joe Sacco)

  • A lebre da Patagônia (Claude Lanzmann)

  • Shoah (Claude Lanzmann)

  • A máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)

  • O remorso de baltazar serapião (valter hugo mãe)

Já estou com saudades dessa FLIP. Mas a de 2012 deverá ser memorável - basta ver quem será o homenageado: Carlos Drummond de Andrade. Viva a FLIP !


MINHA GALERIA DE FOTOS - FLIP 2011
















quinta-feira, julho 07, 2011

FLIP 2011

Paraty está em festa!

Começou a 9ª edição da Festa Literária de Paraty - FLIP 2011.

Esta é a vista do complexo da FLIP que agora está concentrada na mesma margem: tenda dos autores, tenda do telão, café, livraria, estands dos parceiros - ficou muito boa essa arquitetura.

São 36 autores convidados e muitas atividades - pois além da FLIP tem a FLIPINHA e a FLIPZONA - tudo coordenado pela Casa Azul.

O almoço com os autores e parceiros é um dos pontos altos da FLIP.

Sempre no dia da abertura, às 14h - desta vez foi no jardim da linda casa de Marina Massi - ela e seu marido, ótimos anfitriões - um congraçamento entre organizadores, parceiros, autores e convidados.

A mesa de doces estava de dar água na boca!

Adorei encontrar Enrique Krauze - escritor que criou junto com Octavio Paz, no México (uma boa lembrança de quando morei lá) a revista literária Vuelta. Conversamos e tiramos uma foto pra matar as saudades:






























A conferência de abertura em homenagem a Oswald de Andrade foi feita a 4 mãos por Antonio Cândido e José Miguel Wisnik.

Antonio Cândido preferiu falar do amigo Oswald de Andrade - " sou o único amigo dele ainda vivo". Contou de como se conheceram e algumas passagens divertidas como quando Oswald lhe disse: “Eu ataquei você com violência e você não perdeu a serenidade. Proponho que sejamos amigos. Daqui em diante você pode falar o que quiser de mim”. Falou da amizade de Oswald por Mário de Andrade, das suas brigas e do que Oswald lhe disse sobre Macunaíma: "é a maior obra literária do modernismo - o livro que eu queria ter escrito".

Para Cândido, o jornalismo de Oswald era tão importante quanto sua poesia e sua literatura; mostrava de maneira brilhante tudo o que ele via. Porém, cita, há um único artigo importante sobre Oswald de Andrade, escrito por Mário de Andrade. Conta que Oswald era um amante da literatura e que depois de uma briga que tiveram ele escreveu "Reconciliei-me com Antonio Cândido" - porque achou que Cãndido tinha escrito um artigo interessante. Oswald era explosivo - brigava e desbrigava.

Oswald era um inconformado com a burguesia - por exemplo, não se conformava com o fato da sociedade ser baseada em padrões masculinos - era uma pessoa de vanguarda para seu tempo. Foi rico, pobre, anarquista literário, boêmio, stalinista (depois brigou com o partido). Ele soube usar a arma do riso: nada resiste ao riso - foi a grande arma do modernismo brasileiro. Oswald mostrou que a literatura séria pode ter riso e leveza.



















Wisnik falou de Oswald do ponto de vista do aluno de Antonio Candido - de uma forma mais acadêmica. Relacionou o movimento antropofágico com o tropicalismo - leu trechos de Verdade Tropical, de Caetano Veloso, - e com o teatro - lembrou a montagem do Rei da Vela por José Celso Martinez.

José Miguel Wisnik definiu Antropofagia como um critério seletivo de leitura o qual faz com que o leitor se desloque em relação à alteridade. A lei do homem antropofágico: "só me interessa o que não é meu".

Ao final Wisnik fez uma leitura de um trecho de “Serafim Ponte Grande” e lembrou que ele traz no lugar que em geral faz menção aos direitos autorais a frase “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas” - que vai na contramão da política daquela época e também, incrivelmente, da atual.

Depois da conferência o show de abertura na tenda do telão!

O Show de José Miguel Wisnik + Celso Sim e ao final com Elza Soares foi o melhor show de todas as Flips !

As músicas de Wisnik sobre textos de Oswald fizeram o público cantar junto, se deliciar. Teve Lamartine Babo, Jorge Mautner, Cazuza - um carnaval antropofágico.

Depois da entrada da diva Elza Soares, que veio mesmo depois de sofrer uma cirurgia de coluna há um mês, o público foi ao delírio. Aplaudia de pé todas as canções, cantava junto e gritava palavras de amor â musa, que ficou emocionada.

Um grande começo desta FLIP2011!