terça-feira, julho 01, 2008

SAMPARIOCA



A geografia de sua cidade afeta a prática do analista, invariante do Real


O primeiro SAMPARIOCA - Um pequeno encontro clínico de psicanalistas do Rio e de São Paulo, em torno ao ensino de Jacques Lacan – ocorreu no sábado, 28 de junho, no IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana (SP), sob a coordenação de Jorge Forbes (IPLA/SP) e Tania Coelho dos Santos (SEPHORA/RJ).

Cinqüenta participantes do Núcleo Sephora, do IPLA e do Projeto Análise debateram dez casos clínicos, num encontro que se estendeu por doze horas. Tratou-se de casos atendidos no âmbito dos estudos do Sephora (em Varas de infância e família, Clínica de Obesidade), e no das três clínicas mantidas pelo IPLA (a Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano - USP, Núcleo de Pesquisa, Psicopatologia e Psicanálise – HC - USP e Clínica-Escola).

No decorrer dos trabalhos, alguns pontos em comum se destacaram. As grandes metrópoles colocam desafios que exigem mudanças da psicanálise. São um campo apropriado para o estudo da segunda clínica de Lacan, que dá mais importância à conseqüência do que ao sentido.

Numa sociedade líquida, o analista não espera ser chamado. Onde os enunciados imperativos fazem sofrer, oferece a palavra e a escuta, antecipando-se à demanda. Sua ação requer dispositivos clínicos flexíveis e redes intercambiáveis de produção e circulação da psicanálise.

Por essa razão, o psicanalista lacaniano:

1 - não recua diante da desesperança de sujeitos que foram sentenciados pelas contingências (na forma de sentença judicial, diagnóstico médico, encaminhamento de familiares, etc.);

2 - acolhe (sem resignar-se nem compadecer-se) o insuportável de cada um que o procura;

3 - intervém para esvaziar a consistência dos discursos e seus diferentes imperativos;

4 - aposta na vitalidade da psicanálise para interpretar os discursos (familiares, médicos, pedagógicos, jurídicos e etc..) que subjugam um sujeito, inviabilizam sua existência ou fazem dela uma tragédia;

5 - estabelece parcerias com instituições (a universidade, o judiciário, o hospital etc.) que ofereçam condições para potencializar o ato analítico, produzindo um pouco mais de satisfação como efeito;

6 - trabalha de modo a modificar diagnósticos, prognósticos e até a direção do tratamento médico, da orientação pedagógica, da decisão judicial e muitos outros procedimentos;

7 - reinsere, na consideração da sociedade líquida, a dimensão invariável do vivo, da sexualidade e da morte, pois sabe que, somente assim, se pode reinventar o uso do corpo e dos laços sociais;

8 - condena à prescrição todo imperativo mortificante e toda sentença mórbida que vige sobre o sujeito, que de direito deve permanecer vivo;

9 - coloca seu trabalho à prova da conversação, submetendo o relato de seus casos (princípios, métodos e resultados) ao escrutínio da comunidade científica e psicanalítica; e

10 - transmite suas descobertas de modo claro e pouco ritualizado, facilitando a adesão de diferentes comunidades ao discurso psicanalítico e provocando, nesse movimento vivo, a constante reinvenção da psicanálise.

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