sexta-feira, dezembro 19, 2014

AS MARCAS DO NOVO

O ano novo marca uma data para todos – é universal. Mas, possibilita a cada um contar e fazer a sua história, e nisso é singular. Por que precisamos de marcas? Por Jorge Forbes.



As Marcas do Novo
 Jorge Forbes


Imagine uma frase sem ponto, um dia sem noite, um caminho sem parada. Seria tudo igual, irrelevante, sem graça, dada a ausência do ritmo que fabrica o sentido, no contraste das situações. Quem vive quer contar e quando perdemos o ritmo entramos no contínuo mortífero.
O ano novo é uma das principais pontuações que nos marca. Ele escande o tempo, classifica lembranças, promove o futuro. O ano novo é palco de nossos sonhos, de nossos planejamentos. Cada um tem seu método de jurar o ano novo: uns o fazem em segredo, fechando até os próprios olhos; outros, ao contrário, fazem um pacto em tabelas complicadas, com marcações dia a dia, especificando o caminho a trilhar; ainda outros preferem fazer compromissos com a pessoa amada, escolhendo o melhor lugar para testemunhar suas esperanças. Uma praia, uma cachoeira, uma montanha, uma árvore, um rochedo, uma ponte.
O ano novo é generoso, pois se renovando todos os anos – uma vez que ele nunca é datado - o que não funcionou em um ano, terá outra chance no próximo ano novo. Nós, curiosamente, vamos ficando velhos, mas o ano é sempre novo. Já notaram? E quanto mais velhos, vamos ficando espertos em anos novos. É uma paradoxal vantagem da idade. Acumulamos anos novos nas gavetas de nossas maiores emoções, de ponta a ponta de nossas vidas: os nascimentos, os acidentes, as formaturas, os prêmios, as perdas, as mortes e, muito especialmente, os amores. O ano novo adora os amores, razão pela qual todas suas representações aludem aos encontros de amor. O navio, o champanhe, os fogos, os saltos das ondas, a dança, tudo isso é para ser feito de mãos dadas, nem que seja com a saudade.
O ano novo é flexível ao horário de cada país – muitos ficam em frente à televisão brindando em várias línguas a sua chegada e escolhendo, na comparação, o melhor cenário. Ele também é flexível aos nossos estados íntimos, se adequando do bom ao péssimo humor.
Uma coisa é certa, ninguém escapa ao ano novo. Não dá para resistir à sua chegada, não dá para atropelá-lo, não dá para ignorá-lo. Ele marca uma data para todos, nisso é universal; ele possibilita a cada um contar e fazer a sua história, nisso é singular.
A você de jogar e fazer do seu, um bom ano novo. Sorte!


Jorge Forbes é psicanalista. Artigo publicado na revista IstoÉ Gente, edição bimestral / janeiro 2015.



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