“Na
onda de apresentar o Brasil ao mundo, os brasileiros voltam-se sobre si mesmos
e se perguntam com que roupa vão aparecer no baile das nações, inclusive no
amor” – diz Jorge Forbes, na abertura do seu texto.
Jeitinho brasileiro de amar
Mesmo no silêncio do primeiro encontro, os brasileiros dançam – com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o
andar, o meneio.
Jorge Forbes
Haveria um jeito brasileiro de
amar?
Na onda de se apresentar o Brasil
ao mundo, os brasileiros voltam-se sobre si mesmos e se perguntam com que roupa
vão aparecer no baile das nações, inclusive no amor.
Não precisamos nos aprofundar
muito, para perceber que cada povo ama de certo jeito peculiar. É o que nos
permite brincar, em caricatura, que o amor francês é cheio de biquinhos e não
me toques; que o alemão ama na dureza; que o americano até no carinho usa a
régua do custo-benefício; que o argentino, especialmente o macho, abre e exibe
todas as penas do pavão; que o italiano fala mais que confirma; que o inglês
ama em hora marcada etc. E o brasileiro?
Sim, podemos falar de um jeito
brasileiro de amar. A principal característica é a ginga, a flexibilidade, como
de resto em tudo. O brasileiro não se leva muito a sério em declarações
pomposas. Nem se preocupa em sustentar um pedido de casamento na realidade
prática. Primeiro o brasileiro declara e assina o sonho, depois corre atrás de
sua realização. Outros povos preferem adequar os sonhos aos fatos, coisa
chatíssima nessas terras. O brasileiro não se prende a uma forma convencional
de expressão amorosa. Por aqui, diz o poeta Milton Nascimento, todas as formas
de amor valem à pena. Outo poeta, Vinícius de Moraes, destaca o desmedido do
amor na terra onde tudo dá, na infinitude do sentimento enquanto dure.
A sensualidade brasileira está à
flor da pele. Dizem os sociólogos que nos estudam, como Domenico de Masi, que
isso é herança da escravidão. Os negros escravos tinham como seu único bem o
seu corpo. Deles e dos índios teríamos herdado a cultura do cuidado com o corpo
que acaba se refletindo na proeminência da nossa cirurgia plástica e da
dermatologia, e nos espetáculos esculturais de nossas praias. Mesmo no silêncio
do primeiro encontro os brasileiros dançam. Com o olhar, o aceno, a cruzada de
perna, o andar, o meneio.
E se você, nesse momento, está
sorrindo ao se reconhecer nessas características, querendo delas saber mais, e
está com vontade de acrescentar detalhes de sua forma de amar, é porque você é
brasileiro e sabe que estamos agora privilegiados em uma pós-modernidade que
valoriza o que já intuitivamente sabíamos: que nenhuma explicação de amor é em
si suficiente. Que o amor pede sempre um complemento, um jeitinho especial dos
amantes. Se não, ora, se não for assim, não tem jeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário