sábado, maio 31, 2014

LIMITES DO IMPOSSÍVEL

Letíca escreveu um belo artigo para a newsletter do IPLA - nº 81, editada por mim.

Segue o texto na íntegra:

Limites do impossível
Os desafios do Ironman e das competições de longa distância
Leticia Genesini
Neste último domingo, 25 de Maio, apaixonados por triátlon assistiram Igor Amorelli cruzar a linha de chegada do Ironman Brasil, em Floripa, tornando-se o primeiro atleta brasileiro a vencer o percurso. 3,8 km de natação, 180 km de pedalada, e uma maratona (42,2 km) – este é o esforço exigido para clamar para si o admirado título de Ironman, demandando uma boa dose de coragem e uma impensável dose de loucura.  

Para Igor e o restante da elite a prova representa a chance de um pódio que garante o título, a vaga para a final do Ironman em Kona, e ainda 15 mil dólares. Mas, e para os 2000 participantes amadores que estão lá para competir com a própria sombra? Que não somente sabem que não possuem chance alguma de vitória, mas que pagaram para se expor a este sofrimento às sete da manhã de um domingo? Que ímpeto impossível é capaz de reunir 2000 pessoas neste ato de loucura? Nem ao menos se pode dizer que se trata de uma loucura espontânea e impulsiva, já que por meses e meses esses atletas acordaram em horários indecentes para conseguirem encaixar com fidelidade seus longos treinos antes de seguir com as obrigações usuais. Pelo contrário, trata-se de uma loucura meticulosamente planejada, uma batalha cuidadosamente traçada contra moinhos de vento.

E para quê? Testar os limites do corpo? Também. Mas não se enganem, a exaustão de uma prova de 226 km não desafia as pernas e os músculos, mas sim o peito. Se são 226 km que o corpo deve percorrer diligentemente resistindo à fadiga, são também 226 km entre linha de partida e a linha de chegada; 226 km de oportunidades em que a mente pensa – plena de razão - a cada passo, a cada curva, a cada marca de quilometragem, em desistir, enquanto o coração – sem razão alguma –  resiste. Simplesmente resiste, sem porque ou porém, pois este é um reino em que a razão não ecoa: é uma prova de paixão.

E é este o resto, a soma, a prova dos 9, que é compartilhada por todos, seja ele o atleta de elite ou o estreante, - a realização de enfrentar o imponente absurdo e sair vitorioso, armado apenas de uma impossível loucura. É o exercício da certeza que declara: exatamente porque o absurdo da vida não concede uma razão, suas sem-razões também não bastam para frear.

Letícia Genesini é escritora, designer e corredora aficcionada. Publicou os livros de poesia "umponto" e "entre" pela editora 7letras.Siga-a no Instagram: @fit_let

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sexta-feira, maio 30, 2014

TERESA CRISTINA CANTA ELIZETH CARDOSO - A DIVINA


Teresa Cristina cantando Elizeth Cardoso foi divino!


O show no SESC Bom Retiro foi um super sucesso.


O cenário, os músicos, o repertório - tudo muito bem cuidado. A interpretação de Teresa foi maravilhosa!

Um show sofisticado e tocante ao mesmo tempo.

Ao final Teresa convocou o público a sambar e inovou tirando fotos (selfies) no palco com os fãs que se divertiram posando com ela nas fotos.

Um show memorável!

Salve Teresa Cristina!

quarta-feira, maio 28, 2014

INAUGURAÇÃO DO IED RIO




Na última terça-feira, 27 de maio fui com Leticia na inauguração do Instituto Europeu de Design Rio de Janeiro. O prédio, no morro da Urca, faz parte da história da cidade do Rio. Foi um hotel nos anos 30, depois o Cassino da Urca onde se apresentaram os grandes artistas da época, como Carmem Miranda, depois a TV Tupi e por longos anos ficou desabitado.
O arquiteto Ado Azevedo fez um belo trabalho de restauração.
Dá vontade de estudar lá!

Letícia estudou no IED de Milão e fez um trabalho de final de curso que virou um livro. Será lançado em agosto, uma parceria do IED e da Universos. Além disso colabora com o IED aqui no Brasil em várias frentes. Foi una giornata indementicabile!


segunda-feira, maio 12, 2014

ANGELA E CAUBY

Neste domingo de dia das mães também foi o aniversário de 87 anos de minha mãe.
Meu presente para ela foi o show de Angela Maria e Cauby Peixoto - pra machucar os corações !
A voz desses dois ícones da música brasileira continua maravilhosa.
Aqui, algumas das canções desta noite:


terça-feira, maio 06, 2014

PAULO MENDES DA ROCHA NA TRIENNALE DE MILÃO

O grande arquiteto Paulo Mendes da Rocha está em Milão inaugurando uma exposição de seus desenhos - trabalhos técnicos, croquis e esboços - na Triennale.
É mais do que merecido esse reconhecimento - alguém que eleva a arquitetura brasileira, ganhador do Óscar da Arquitetura, assim como Niemayer - os dois grandes arquitetos brasileiros.

Tenho orgulho de ter uma casa idealizada por ele, um projeto inusitado - pois foi construída numa região rural nos limites de Minas Gerias, ao lado da Pedra do Baú. Uma felicidade poder conviver com uma pessoa como Paulo Mendes da Rocha.

Aqui está a íntegra da matéria sobre a exposição publicada hoje na Folha de S.Paulo.

E para lembrar alguns momentos da construção da casa do Paulo:











sábado, maio 03, 2014

DE JANELA ABERTA

A janela aberta do Papa Francisco, ecoando as janelas quebradas de Nova York, representa uma mudança de paradigma: vencer pela vergonha e não pelo medo. 

Esse artigo de Jorge Forbes foi publicado em O Mundo Visto pela Psicanálise
De janela aberta 


A cidade é temida. Em todos os consulados se preparam avisos a seus cidadãos - de visita ou de residência - com normas de defesa: não ostente, leve pouco dinheiro, não ande sozinho, feche as janelas, não desperte curiosidade. Ponham grades, ponham grades, ponham grades. Assim alertam os especialistas em proteção pessoal, ao se referirem a certas cidades brasileiras, no caso, ao Rio de Janeiro.
A diplomacia do Vaticano deve ser muito ruim, ou o seu chefe de estado é absolutamente insubordinado. Em sua primeira viagem apostólica, o novo Papa - aquele que se diz do fim do mundo – viveu uma situação calamitosa, aos olhos escuros dos especialistas formados na escola da paranoia defensiva. Ao chegar ao aeroporto do Galeão, o viajante de branco deu preferência ao mais banal dos carros, aquele tipo casca de ovo, para fazer o seu primeiro percurso até a catedral metropolitana. Foi aí que o impensável, melhor, não tão impensável assim, o que era temido aconteceu. Para pasmo geral, ele (seu motorista, é claro) se perdeu: tomou a avenida errada e se viu imobilizado em um gigantesco engarrafamento. Curiosamente, em vez de ir para o seu palco, livre e desimpedido, caiu em meio à sua própria plateia congestionada. Pânico, suspense, silêncio. O que ele vai fazer? Será que vão cercar o carro com um batalhão de choque? Será que um agente vai se jogar sobre o seu corpo justificando o título de “guarda-corpo”? Não, nada disso ocorreu. Sua Santidade, para pasmo geral, de janela aberta estava, de janela aberta continuou. E sua atitude em si avisava que não compartilharia de nenhum show bopesco.
Deu-se, diriam alguns, um milagre.
O que ocorreu, a meu ver, foi uma mudança de perspectiva, ou seja, de paradigma. Em vez de se confrontar ao possível opositor, em vez de dar consistência a ele, se apresentando mais poderoso, por exemplo, dando uma de Sumo Pontífice - como falou Caetano, do Rei - Francisco faz um gesto que não atemoriza o agressor em potencial, mas o ridiculariza. Esse é o ponto: vencer pela vergonha, não pelo medo.
Mutatis mutandis, comparemos esse exemplo com a resolução da altíssima taxa de criminalidade da cidade de Nova Iorque, no fim nos anos 90. Quando já se tinham esgotados todas as tentativas de dar maior poder repressivo à polícia, também se deu uma mudança paradigmática, muito bem comentada pelo jornalista Malcom Gladwell. Não se tratava mais de fazer a grande e bombástica captura do representante do star system criminoso, mas de despender tempo, paciência, dinheiro, cuidado, homens, em supostas ações menores como a de limpar as pichações dos vagões de metrô, todos os dias, exaurindo os pichadores. A mudança de contexto tem um poder, o Poder do Contexto, que inibe o crime. Em seguida à limpeza dos trens, vieram outras ações de mesma inspiração, todas aparentemente frugais. Essa política foi descrita como “teoria das janelas quebradas”, por James Q. Wilson, George Kelling e Catherine Coles. Foi difícil convencer àqueles duros policiais que isso daria certo, ou mesmo, que só isso daria certo. Se me habituo com uma janela quebrada, também me habituo a duas, a três, e me abro ao menosprezo da cidadania.
Alguém poderia perguntar: - E lá importam janelas quebradas e pichações no metrô? Não seria cuidar só do superficial? Ficou demonstrado que não. A quem assim pergunta também poderíamos lembrar que um tumor canceroso incomoda muito, mas não mais, por vezes, que uma farpa debaixo da sua unha. Qual lhe demanda maior urgência? Acrescente-se o aspecto fundamental que o Poder do Contexto se espraia em epidemia. Se uma, e mais outra, e ainda mais outra pessoa envergonha a ação criminal, a partir de pequenas ações, isso se transforma em um vírus social, em uma ação que pode curar uma cidade como se passou em Nova Iorque.
O mundo pós-moderno responde a esse novo paradigma. Não às janelas blindadas, mas às janelas abertas.


Jorge Forbes
Artigo publicado também na revista Gente IstoÉ, abril de 2014.