No embalo de uma semana religiosa, Jorge Forbes escreve notas ao léu
notas ao léu
Foi uma semana papal, papada pelo vizinho do sul. O número
de piadas sobre o novo bispo de Roma dá a medida de nossa dor de cotovelo.
Afinal, um Papa ficaria bem na paisagem de uma Olimpíada precedida por uma copa
do mundo de futebol. Já pensaram a glória de um santo chute inicial da Copa? O Papa branco passando a bola para o Papa negro, Pelé?
PqP.
Não há mais infalibilidade nem no Vaticano. Devemos essa ao
Papa emérito. Afinal, infalibilidade não se aposenta, uma vez que o Espírito
Santo não tem idade. É bom para alguns psicanalistas que pensam o Passe
(instrumento inventado por Lacan para julgar o efeito final de uma análise)
como uma consagração, quando deveria ser todo o contrário: motivo de mostrar e
de discutir a clínica e não artigo de fé. Que se abra ao franco debate a não a
interpretações metalinguísticas, como tem ocorrido nos congressos.
Continuo pensando que uma forte doença do lacanismo é o
lacanês. Com que prazer pessoas repartem o não entendimento. Deve ser muito
confortável, pois, afinal, quando ninguém entende nada, não há erro, estão
todos certos. E, pior, ficam orgulhosos do segredo escondido de suas
ignorâncias. Pobre Lacan, que tanto suou para fazer um ensino com régua e
compasso. Eu estava presente no dia em que Lacan dissolveu a sua Escola, frente
ao que viu – à época - fazerem de seu ensino. E agora, José? Seria divertido
que as pessoas compreendessem o que falam e seus interlocutores, o que escutam.
Imagino o susto. Ainda me lembro quando a missa começou a ser rezada em
português; muitos se decepcionaram de estarem compreendendo o que se dizia, com
saudades do sanctus, do orate frates, do ite missa est.
Deo gratias.
(por Jorge Forbes)
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