Entrevistei o grande artista plástico Guto Lacaz para o site do IPLA:
As livrarias têm
dificuldade em classificar os livros de Guto Lacaz. Não sabem se é arte, se é
brinquedo. É um inclassificável, como é um artista, que só é classificável por
seu nome.
TG - O que faz sua
cabeça? O divã?
GL – Eu mesmo. Aliás, este ano estava pensando em fazer
psicanálise, mas sou eu mesmo que faço minha cabeça. Tento decodificar os
problemas que me ocorrem, às vezes coisas pesadas, que tento resolver comigo
mesmo ou com ajuda de amigos. Algumas coisas eu resolvo muito lentamente, às
vezes em 10 anos, outras mais rapidamente.
TG – E o design?
GL – O design é a minha vida. Eu preciso fazer coisas, gosto de fazer sempre alguma coisa. O design me ocupa, me dá
alegria, me dá o dinheiro para viver e para investir em meus projetos.
Não sei viver sem o desenho, sem a construção. É
o que me mantém vivo! Errei muito, mas, hoje, vejo que fui salvo pelas Artes.
TG – Fale do projeto do seu último livro – 80 desenhos de Guto Lacaz – lançado no
final de 2012(*).
GL – Esse livro é resultado da minha colaboração para a
revista Caros Amigos, onde comecei a
convite do psicanalista Roberto Freire, e continuo colaborando até hoje. Ao longo de 15 anos produzi cerca de 400
desenhos para a revista e selecionei 80 para o livro, que foi lançado em
dezembro de 2012. Apresentei o projeto do livro a três editoras, mas não
conseguia publicar porque elas não aceitam só desenhos, sempre querem que tenha
algo mais. As pessoas não sabem como classificar
um livro que só tem desenhos; tudo tem que ter um rótulo, como literatura, aviação.
Nas livrarias não sabem em que prateleira colocar o livro. Não sabem se é
infantil, se é para adultos – não sabem classificar.
TG – Não sabem se é arte, se é brinquedo. É um
inclassificável, como são os artistas. O artista só é classificável por seu
nome.
GL – Pois é, eles não sabem também que isso é um livro de
arte. Sabem que é desenho, mas acham difícil categorizar.
TG – Você é designer, inventor, faz instalações. Como você
se define?
GL – Eu sou arquiteto. Quando me formei, em 1974, não
existia a palavra designer. Ela entrou oficialmente no mercado na década de 1980.
Minha formação na faculdade de arquitetura foi bem aberta – aprendi fotografia,
cinema, música contemporânea, desenho, comunicação visual, desenho gráfico,
desenho de produtos – não ficava só na edificação. Foi a minha redenção. Tudo
era possível, bastava ter um projeto e desenvolvê-lo. Depois de formado comecei
a trabalhar com artes gráficas e depois entrei para artes plásticas. Minha base
é o desenho, as outras coisas são consequências do desenho – posso pintar o
desenho, construir o objeto desenhado, atuar a partir do desenho. Faço
serigrafia, pintura, escultura ...
TG – O que você gosta mais?
GL – Gosto de ficar quietinho, desenhando. E depois gosto de
mostrar, de me exibir. Sou tímido, mas preciso mostrar o que eu fiz. Quando eu
faço uma exposição, lanço um livro, fico esperando as pessoas e se não aparece
ninguém, eu morro. Ter uma ideia me dá um prazer imenso; adoro fazer o trabalho
a partir dessa ideia e, depois, quero mostrar às pessoas e ouvir os
comentários.
TG – Esse livro 80
desenhos, como você já disse, é resultado de um trabalho de 15 anos com o
grupo do psicanalista Roberto Freire. Então, você pode dizer que tem uma
relação com a psicanálise há 15 anos?
GL – Com a psicanálise mesmo eu nunca tive relação. Tive,
por tabela, porque meu irmão, Carlos Roberto Martins Lacaz, é psicanalista
junguiano. Eu fiz a parte gráfica da sociedade a qual ele pertence. Mas eu só
prestava serviço à instituição, nunca tive a vivência da psicanálise. Quando vejo publicações de psicanálise acho
muito complicado, para mim é um universo misterioso.
TG – Você trabalha conosco, no IPLA, desde 2006, quando
criou nosso logotipo. Como você vê esse trabalho desde então?
GL – Eu gosto muito, é divertido. É uma relação boa,
sensível; trabalhamos com rapidez; é fácil.
(*) Guto Lacaz publicou 4 livros: 80 desenhos de Guto Lacaz, uma seleção de desenhos feitos para a
revista Caros Amigos; Desculpe a letra, resultado de oito anos de
colaboração para a coluna Joyce Pascowitch, da Folha de S.Paulo; Gráfica,
resultado de trabalhos gráficos expostos no Centro Cultural São Paulo; e Homem Objeto, sobre artes
plásticas.
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