sábado, março 16, 2013

ENTREVISTA COM GUTO LACAZ



Entrevistei o grande artista plástico Guto Lacaz para o site do IPLA:

As livrarias têm dificuldade em classificar os livros de Guto Lacaz. Não sabem se é arte, se é brinquedo. É um inclassificável, como é um artista, que só é classificável por seu nome.

TG - O que faz sua cabeça? O divã?
GL – Eu mesmo. Aliás, este ano estava pensando em fazer psicanálise, mas sou eu mesmo que faço minha cabeça. Tento decodificar os problemas que me ocorrem, às vezes coisas pesadas, que tento resolver comigo mesmo ou com ajuda de amigos. Algumas coisas eu resolvo muito lentamente, às vezes em 10 anos, outras mais rapidamente.
TG – E o design?
GL – O design é a minha vida. Eu preciso fazer coisas, gosto de fazer sempre alguma coisa. O design me ocupa, me dá alegria, me dá o dinheiro para viver e para investir em meus projetos. Não sei viver sem o desenho, sem a construção. É o que me mantém vivo! Errei muito, mas, hoje, vejo que fui salvo pelas Artes.
TG – Fale do projeto do seu último livro – 80 desenhos de Guto Lacaz – lançado no final de 2012(*).
GL – Esse livro é resultado da minha colaboração para a revista Caros Amigos, onde comecei a convite do psicanalista Roberto Freire, e continuo colaborando até hoje.  Ao longo de 15 anos produzi cerca de 400 desenhos para a revista e selecionei 80 para o livro, que foi lançado em dezembro de 2012. Apresentei o projeto do livro a três editoras, mas não conseguia publicar porque elas não aceitam só desenhos, sempre querem que tenha algo mais. As pessoas não sabem como classificar um livro que só tem desenhos; tudo tem que ter um rótulo, como literatura, aviação. Nas livrarias não sabem em que prateleira colocar o livro. Não sabem se é infantil, se é para adultos – não sabem classificar.
TG – Não sabem se é arte, se é brinquedo. É um inclassificável, como são os artistas. O artista só é classificável por seu nome.
GL – Pois é, eles não sabem também que isso é um livro de arte. Sabem que é desenho, mas acham difícil categorizar.
TG – Você é designer, inventor, faz instalações. Como você se define?
GL – Eu sou arquiteto. Quando me formei, em 1974, não existia a palavra designer. Ela entrou oficialmente no mercado na década de 1980. Minha formação na faculdade de arquitetura foi bem aberta – aprendi fotografia, cinema, música contemporânea, desenho, comunicação visual, desenho gráfico, desenho de produtos – não ficava só na edificação. Foi a minha redenção. Tudo era possível, bastava ter um projeto e desenvolvê-lo. Depois de formado comecei a trabalhar com artes gráficas e depois entrei para artes plásticas. Minha base é o desenho, as outras coisas são consequências do desenho – posso pintar o desenho, construir o objeto desenhado, atuar a partir do desenho. Faço serigrafia, pintura, escultura ...
TG – O que você gosta mais?
GL – Gosto de ficar quietinho, desenhando. E depois gosto de mostrar, de me exibir. Sou tímido, mas preciso mostrar o que eu fiz. Quando eu faço uma exposição, lanço um livro, fico esperando as pessoas e se não aparece ninguém, eu morro. Ter uma ideia me dá um prazer imenso; adoro fazer o trabalho a partir dessa ideia e, depois, quero mostrar às pessoas e ouvir os comentários.
TG – Esse livro 80 desenhos, como você já disse, é resultado de um trabalho de 15 anos com o grupo do psicanalista Roberto Freire. Então, você pode dizer que tem uma relação com a psicanálise há 15 anos?
GL – Com a psicanálise mesmo eu nunca tive relação. Tive, por tabela, porque meu irmão, Carlos Roberto Martins Lacaz, é psicanalista junguiano. Eu fiz a parte gráfica da sociedade a qual ele pertence. Mas eu só prestava serviço à instituição, nunca tive a vivência da psicanálise.  Quando vejo publicações de psicanálise acho muito complicado, para mim é um universo misterioso.
TG – Você trabalha conosco, no IPLA, desde 2006, quando criou nosso logotipo. Como você vê esse trabalho desde então?
GL – Eu gosto muito, é divertido. É uma relação boa, sensível; trabalhamos com rapidez; é fácil.

(*) Guto Lacaz publicou 4 livros: 80 desenhos de Guto Lacaz, uma seleção de desenhos feitos para a revista Caros Amigos; Desculpe a letra, resultado de oito anos de colaboração para a coluna Joyce Pascowitch, da Folha de S.Paulo; Gráfica, resultado de trabalhos gráficos expostos no Centro Cultural São Paulo; e Homem Objeto, sobre artes plásticas. 



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