Cirurgia íntima avança entre as mulheres, que apostam no procedimento para se sentirem mais sensuais e confiantes
Operações plásticas há tempos fazem parte do arsenal estético feminino. Porém, silicone para aumentar os seios, cirurgia para suavizar rugas e lipoaspiração para definir a silhueta já não bastam; a estética vaginal, ou cirurgia íntima, é a nova febre do momento. Nos EUA, foram realizados mais de 1,5 milhão de procedimentos do tipo; no Reino Unido, 1,2 milhão. No Brasil, a Folha de S. Paulo informou que o número de cirurgias íntimas aumentou 50% nos últimos dois anos.
Afinal, o que quer uma mulher? A célebre pergunta de Freud em carta a Marie Bonaparte poderia ser transposta para as adeptas das cirurgias íntimas. Segundo a imprensa, as mulheres que procuram o procedimento sentem-se melhores, mais seguras, mais bonitas e mais sexies. A intimidade renovada pelo avanço da tecnologia!
Porém, a cirurgia íntima não é novidade. Marie Bonaparte, no final dos anos 1920, foi a primeira a submeter-se a essa operação. Mas talvez a motivação não fosse a mesma de hoje. A preocupação dela era tratar da frigidez que a atormentava. Acreditava que diminuindo a distância entre o clitóris e a vagina o orgasmo seria mais fácil.
E as mulheres de hoje querem prazer ou parecer mocinhas? Ou ambos? Será que as fãs da cirurgia íntima, assim como as histéricas, querem sempre mais, sofrem de um desejo que nunca é satisfeito? Será que uma vagina novinha garantiria o rejuvenescimento, a sensação de ser uma garotinha outra vez? Seriam as adeptas da cirurgia íntima uma versão feminina do “adolescente cinquentão”?
Ambos, a garotinha e o adolescente cinquentão, querem mais do sexo. Porém, precisamos lembrar que a intimidade de uma pessoa vai muito além da sua nudez ou do aspecto de seus órgãos sexuais: é aquilo que cada um traz de mais estranho em si, aquilo de que não escapa. Lacan chamava “meu íntimo” de “meu êxtimo” – o externo que habita em mim. Nas palavras de Jorge Forbes: “Podemos nos livrar de muita coisa na vida, mas não da gente mesmo, em especial desse ponto íntimo desconhecido, promotor de nossas paixões, essa força estranha vivida na sensação do “mais forte que eu”.
Em uma análise, o psicanalista opera como um cirurgião incidindo precisamente nos pontos nodais do sujeito, no sintoma do paciente. Esse ato provoca uma mudança de posição na vida do analisando, uma nova forma de lidar com suas questões e com seu sofrimento, que exige invenção e responsabilidade (IR). Assim, as mulheres que desejam se sentirem mais seguras com o auxílio da cirurgia íntima poderiam se questionar quanto aos efeitos que a psicanálise poderia operar em suas vidas.
autoria:Teresa Genesini e Elza Macedo
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