sábado, julho 21, 2012

MINHAS LEMBRANÇAS DA FLIP 2012


A FLIP de 2012 comemorou seus 10 anos de existência com muita festa. Até a natureza colaborou: um calor de verão, o sol brilhando no braço de mar ao lado das tendas dos autores e do complexo da FLIP, até a lua cheia prateada imperava nas noites literárias. Um clima de alegria, de vitória, de felicidade por esse feito.

Na noite da abertura da festa o jogo do Corínthians competiu com o show do Lenine. Ganhou o jogo, ganhou o timão – campeão da Libertadores – numa partida memorável.

Carlos Drummond de Andrade foi o homenageado da 10ª FLIP. Um livro inédito do poeta foi lançado na festa: OS 25 POEMAS DA TRISTE ALEGRIA – seu primeiro livro de poemas ainda não publicado – “o quase livro de um pré-poeta”, nas palavras de Antonio Carlos Secchin, que fez a apresentação do livro.

As homenagens a Drummond foram constantes durante toda a FLIP:

- em todas as cadeiras da tenda dos autores havia sempre um postal com uma frase de Drummond. Selecionei quatro:

• Vai Carlos ! Ser gauche na vida.

E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno.

• Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro.

• Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam.

- no início de cada mesa uma poesia de Drummond era lida por alguém – ao vivo, ou uma gravação com a voz do próprio autor. Momentos emocionantes.

- minha mesa preferida foi “Drummond – o poeta moderno”, com Antonio Secchin e Alcides Villaça. Fizeram análises excelentes da poesia do poeta, contaram detalhes da sua vida, declamaram suas poesias – momentos inesquecíveis!

Fiquei emocionada com uma poesia lida por Secchin, uma grande descoberta para mim nessa FLIP:

Procurar o quê
O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo. É outra coisa. Se me perguntam que coisa é essa, não respondo, porque não é da conta de ninguém o que estou procurando. Mesmo que quisesse responder, eu não podia. Não sei o que procuro. Deve ser por isso mesmo que procuro.

Me chamam de bobo porque vivo olhando aqui e ali, nos ninhos, nos caramujos, nas janelas, nas folhas de bananeira, nas gretas do muro, nos espaços vazios. Até agora não encontrei nada. Ou, encontrei coisas que não eram a coisa procurada sem saber, e desejada.

Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito, porque não sinto o prazer dos outros na água do açude, na comida, na manja, e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda. Ele tem experiência de mato e de cidade, sabe explorar os mundos, as horas. Eu tropeço no possível, e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.

Um dia descubro. Vai ser fácil, existente, de pegar na mão e sentir. Não sei o que é. Não imagino forma, cor, tamanho. Neste dia vou rir de todos. Ou não.

A coisa que me espera, não poderei mostrar a ninguém. Há de ser invisível para todo mundo, menos para mim, que de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e direito de esconder.

Carlos Drummond de Andrade

Afora isso, o que mais gostei foi do escritor Enrique Vila-Matas. Sua presença marcante, a sua “não concessão” fazendo da literatura a sua razão de ser, foi uma diferença entre os demais. Fiquei tão curiosa pela sua obra e sua pessoa que comecei a ler naqueles dias um livro autobiográfico: Paris não tem fim. Recomendo!

Uma constante em todas as FLIPs é a má qualidade das mediações – os autores são requisitados a falar de política, de vários assuntos e a literatura, sua obra, fica de lado. Isso acaba prejudicando as mesas. Talvez por isso mesmo, até os mais esperados acabam sendo uma decepção: foi o caso da mesa sobre Shakespeare, que não decolou; de Ian McEwan, totalmente sem graça; a mesa dos cartunistas, insossa. E Jonathan Franzen, que desagradou a maioria, me agradou – disse o que queria e não o que esperavam que ele dissesse – no fundo foi o avesso do avesso.

O tititi no café da tenda dos autores, a proximidade com eles, os eventos em paralelo, a noite na praça e adjacências eram confirmações de que a FLIP é uma festa. Tirar uma foto com seu autor preferido, conversar sobre as mesas ou outros eventos, assistir ao campeonato de boxe na calçada de um bar e ver o brasileiro ser campeão mundial, curtir a cidade - fazem parte da festa.

Gostei do coquetel dos autores e patronos. Pude conversar com Luis Fernando Veríssimo e dizer o quanto representou na minha vida a obra de seu pai – meu escritor favorito – Érico Veríssimo. Falei com vários autores e produtores da FLIP. Aproveitei para cumprimentar Humberto Werneck – que adoro como escritor e que considero um dos melhores mediadores da FLIP, basta lembrar da mesa com Lobo Antunes. Autor de o Santo Sujo – livro sobre a biografia de Jaime Ovale – que acho um primor, conversamos longamente sobre a pesquisa que fez e resultou nesse livro. Um bom fecho da festa!

Gostei de mais essa FLIP. Não teria gostado se ela se resumisse apenas à tenda dos autores. Gostei porque a FLIP é mais do que isso. Mas, para se manter, tem que se reinventar.

Estamos aqui, prontos para colaborar !

 

 
 


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