domingo, março 13, 2011

SOBRE A PSICANÁLISE - RELEMBRANDO UMA AULA DE JORGE FORBES NO IPLA

1) Sobre a Psicanálise:

- nenhum conceito da psicanálise é testável. Nem o inconsciente, nem o consciente, nem o grande outro, nem o sujeito do significante, nem a transferência, nem a contratransferência.

- nenhum conceito da psicanálise é estável e portanto nenhum conceito da psicanálise é universalizável;

- não é possível na Psicanálise determinarmos a excelência pela comparação de escalas comparativas universais.

Portanto, o melhor instituto de psicanálise chama-se divã. Ele não foi substituído, nem ultrapassado; não existe transmissão da psicanálise se não for no trabalho efetivo de uma análise pessoal.

Nenhuma outra coisa se compara com o “se por em questão” pra valer, com freqüência, com conseqüência – e aí sim, nós podemos dizer que se transmite a psicanálise. O resto é pra gente mais conhecer do que uma psicanálise se valeu. Essa afirmativa vale a pena repetir, quando a frase é de Jacques Lacan: Estamos aqui até mais para saber do que uma psicanálise no divã se valeu.

A essência da Psicanálise sempre escapa à palavra.

Uma psicoterapia fixa a pessoa numa identidade. Ela age na ética médica: na medicina há prescrição, curativos.

A psicanálise quebra todos os curativos, todas as identidades; quebra todas as expectativas de que o Outro nos compreenda.

A Psicanálise tem a ver com o que há de mais atual, que é o que nos interroga mais e nos mantém acordados.

2) Sobre as identificações - eu e o Outro

A gente nasce na expectativa do Outro (por que me chamo João, Maria?) e faz análise para sair da expectativa do Outro.

Freud começa a observar o cotidiano da vida das pessoas e percebe os atos falhos. Começa a catalogá-los e percebe que somos trapaceiros da existência.

Muitos anos depois, Lacan vai sintetizar a descoberta de Freud em uma frase: Não existe relação sexual – que complementa com o fato de que se não existe relação sexual, da minha posição de sujeito, eu sou sempre responsável. Quer dizer, da minha posição de me deparar com a falta do justo valor onde se engrena a sexualidade, se eu não quiser dar resposta mentirosa (isto é, patológica), então:

O obsessivo mente – porque o que não está dentro do seu domínio não existe, não importa. Ele diz que é possível dominar todas as coisas, pois ele as domina. O que ele não domina é porque não lhe interessa. Essa é a lógica do obsessivo. Ele mente.

A histérica mente – porque ela diz que existe relação sexual. Ela mente dizendo que existe uma relação em algum lugar, só que não é você.

Os quadros clínicos são as mentiras sobre o fato da existência da não relação sexual.

Cada um tem que gerar uma resposta única à falta da existência da relação sexual.

A única identidade que a gente reconhece na psicanálise é a solução que cada um encontra ao seu gozo – a não existência da relação sexual.

E aí que o final de análise é a identificação ao sintoma. Dá-se o nome de sintoma à solução singular não-interpretável que uma pessoa encontra para incluir no mundo a sua satisfação.

Esse sintoma não é decifrável, porque ele não é do mundo, ele é a própria marca da pessoa.

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