domingo, janeiro 17, 2010

A PSICANÁLISE TOCA O ESTRANHO EM CADA UM - O excitante amor ao diferente - por Jorge Forbes


Freud, o criador da Psicanálise, chamou de "o estranho" (Das Unheimlich), esse algo que sempre falta, essa falha na minha intimidade, esse "êxtimo", como nomeou Lacan. (JF)

Jorge Forbes, num texto maravilhoso publicado hoje no jornal O ESTADO DE S. PAULO (Caderno Aliás) - "O excitante amor ao diferente", analisa o caso da estudante de direito e filha de professora universitária que ajuda o namorado, office-boy procurado pela justiça, a assaltar a própria mãe.

No meio da tragéida do Haiti, Forbes aponta: Essa pequena notícia veiculada nessa semana fica incomodando tal qual uma espinha, ao lado de tragédias bem mais retumbantes.

Forbes destaca neste texto o novo valor da família na era da globalização: o centro da responsabilidade ética da sociedade, como apontou Elza Macedo em seu twitter (@elzamacedo).

Seguem algumas frases escolhidas deste texto, que nos fazem pensar:

Quando os "intocáveis" do laço social (mãe, religião) começam a desmoronar, com justa razão há um alerta geral.

Tem muito pai e mãe que não falam mais nada para seus filhos, hoje em dia, amordaçados pela patrulha do politicamente correto. Se disserem alguma coisa, estarão discriminando. Mas não haveria uma forma de se falar, sem ser condenado por sua opinião?

Quando pessoas convivem por muito tempo, de duas, uma: ou elas têm muita coisa a repartir - interesses, valores culturais e éticos -, ou elas, sendo muito diferentes, tentam anular a diferença que as afasta, hipertrofiando os prazeres básicos sexuais e anulando qualquer outro sistema de laço social que as distancie.

O amor entre os diferentes é muitas vezes mais excitante do que a modorrice dos semelhantes.

Nessa sociedade que perdeu os parâmetros há que se tomar cuidado em se pensar que finalmente somos todos iguais. Não, ao contrário, o que fica evidente é que somos todos diferentes, o que exige muito mais responsabilidade em qualquer relação.

Contrariando o bom-senso, que sempre pensa mal, a tendência da globalização é de sublinhar um novo valor da família, que não é desmentido pelo grande aumento dos divórcios, se entendermos a lógica.

A família será o centro da responsabilidade ética - disse ética, e não moral - da sociedade.

Família, grosso modo, é do que nos queixamos com mais veemência e paixão. É o grupo do qual mais se espera o reconhecimento que nunca chega e a compreensão impossível de sua dor.

É na insatisfação da família que cada um lapida o que lhe falta, a saber, o seu desejo, pois não há desejo sem falta.

Quando nos encontramos com alguém, mais claro fica que alguma coisa de mim falta ao encontro, exatamente essa coisa estranha, essa transcendência da imanência, essa falha na minha intimidade, esse "êxtimo", como o nomeou Lacan. Pois bem, depois do divino e da razão, é essa intimidade estranha que servirá de guia ético para o novo tempo. Sua estranheza exigirá de cada um duas coisas: invenção e responsabilidade. Inventar um sentido para o que não tem, para o estranho, e se responsabilizar pela sua publicação no mundo.

Se ontem as famílias estavam a serviço da República, mandando seus filhos para a guerra, por exemplo, hoje, a República deverá servir às famílias. É o remédio contra o que nos repugna: uma filha ficar de campana para a mãe ser assaltada.

Leia a íntegra do artigo no link do estadao.com.br

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