Por mais que
se queira nunca haverá a justa relação, a perfeita acoplagem entre os amantes,
pois sempre fica uma sobra
Jorge Forbes
Não existe relação sexual. Não, essa não é uma péssima notícia, é só uma provocação.
Foi com essa frase que o psicanalista Jacques Lacan
tumultuou a sensibilidade da intelligentsia
francesa nos anos 70. Claro que não faltou quem imediatamente dissesse que o
famoso seguidor de Freud dizia isso porque estava avançando na terceira idade. Risos.
Mas o fato é que essa aparente bobagem, nos impacta: -“Como assim, não existe
relação sexual? O que quer dizer essa declaração esdrúxula?” Por mais estranha
que possa nos parecer tal afirmativa, ela não o é aos nossos sentimentos. Se a
nossa razão objetiva a repugna, a nossa razão sensível nos diz que há uma
verdade nessa frase.
Revelemos o mistério: a frase não é para ser entendida
como que não exista um encontro sexual entre dois parceiros que se querem, ela
diz que por mais que se queira nunca haverá a justa relação, a perfeita
acoplagem entre os amantes, pois sempre fica uma sobra. Semelhante a uma conta
de dividir imperfeita que deixa um resto. Nenhum motivo para desespero, deixar
um resto é animador, pois é o que incita a novas e repetidas tentativas. Se não
existe a relação sexual, temos um motivo a mais de fazê-la existir, nem que
seja por um breve momento que de tão fugidio nos deixa o gosto de quero mais, e
mais, e mais. Lacan dizia encore, encore, encore, jogando com a homofonia da
palavra francesa “encore” – ainda - com a expressão “en corps” - no corpo. Algo
no corpo fica pedindo mais ainda.
A este aspecto da não existência da relação perfeita
sexual, se soma outro, igualmente provocador: “Se já sei que algo não vai dar
certo, para que insistir?” Assim pensa o esperto. Ele é um precavido do amor.
Do lado homem, ele dissocia a atração sexual, de amor, diminuindo – assim
imagina – a perda inevitável. Do lado mulher, ela pede tantas garantias para um
futuro perfeito, que inviabiliza o presente que tem. Tão espertas quanto
inúteis soluções. Fato é que uma boa dose de bobice é necessária a qualquer
amante. Bobice porque apesar de saber que o erro faz parte do amor, isso não
diminui o entusiasmo. Errou? Tenta de novo e de novo, sem medo de ficar bobo,
sem medo de dizer: - “Você me deixa abobado”. E isso é bom.
Jorge
Forbes é psicanalista. Artigo publicado originalmente na revista Gente IstoÉ,
edição de janeiro/fevereiro de 2014
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