domingo, dezembro 01, 2013

PELADA

Fala-se muito em pele, quando o verão se aproxima. Para o psicanalista, pergunta-se: de quantas peles nos recobrimos? Em que pele nos reconhecemos? De que pele tratamos? 

por Jorge Forbes


O verão se aproxima e com ele as publicações voltam a tratar da pele. Basicamente a ordem é uma só: o preço do sucesso de dois ou três dias de moreno jambo, não valem o risco de um cancerzinho básico. Mas a pele é bem mais que variações de melanina, ela se estende a uma vasta gama de nossos sentimentos. Vamos visitá-las.
Muitos querem salvar a própria pele, quando a situação está ficando difícil. Outros, mais generosos e carinhosos, só vêm razão em salvar a sua pele quando antes salvarem a do seu amor. Visam, com isso, ficarem todos bem em sua pele.
        No entanto, quando a pessoa amada não percebe a gentileza do amor, o amante sente na pele a fria decepção. Ainda assim, já trôpego e exausto, tenta desesperada cartada ao cortar na própria pele tudo o que não for essencial a seu propósito.
        A dificuldade é fazer o outro estar na sua pele, viver o que vive, sentir o que sente e não consegue transmitir, nem nunca convencer.
        O pior desse cenário é quando mais que se sentir desentendido, você se vê ridicularizado, como se o outro estivesse caindo na sua pele. Aí você desiste e jura que nunca mais, nunca mesmo, vai de novo arriscar a sua pele por alguém. E é prudente que você o faça antes de ficar em pele e osso.
        Viram como a pele vai além, muito além de sua biologia? A língua alemã é sábia ao ter duas palavras para aquilo que designamos com uma só, “o corpo”. São elas “Leib” e “Körper”. A primeira, Leib, fala do corpo, digamos, estendido, aquele que me faz estar do lado do outro mesmo a quinhentos quilômetros de distância e apesar disso sentir a pele esquentar. Por sua vez, Körper é o corpo restrito, material, biológico, aquele que os médicos gostam de provar nos exames que dizem quê. O que seria de nós se um corpo fosse só um corpo? Que chatice!
        Conclusão: defenda sua pele do sol tropical, mas lembre-se, ao mesmo tempo, que a vida perde valor quando de tanto nos defender nunca deixamos nossa pele à mostra. Isso é uma verdade nua e crua. Pelada.


Artigo publicado originalmente na revista Gente IstoÉ, edição de outubro de 2013

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