Neste último dia 28 morreu Paulo Vanzolini.
Poderíamos dizer que neste último dia 28 morreu o zoólogo formado em medicina,
Paulo Vanzolini (possivelmente ele preferiria assim). Mas nós preferimos dizer
que quem morreu foi o compositor popular Paulo Vanzolini. E por maiores que
tenham sido suas conquistas e reconhecimentos no campo da biologia, por mais
que ele dissesse que não era um compositor profissional, teimasse em falar que
“nasceu zoólogo” e que era apenas mais uma “pessoa da noite” que fazia música nas
horas vagas, nem fatos nem argumentos conseguem negar a marca deixada por
músicas como “Ronda”, “Boca da Noite” e “Volta por Cima”. Quer queira, Paulo
Vanzolini, quer não, vai o homem, fica a obra.
A verdade é que a canção popular brasileira é em
si um pouco Paulo Vanzolini: não nasceu se propondo ser o que é, simplesmente
foi. Não tendo o cânon literário que lhe faça sombra, no Brasil, sem pretensão
ou embaraço, a música ocupou um lugar na nossa cultura próprio da grande
literatura. “A canção, para nós, segue sendo um dos modos decisivos de invenção
e entendimento das coisas” (Arthur Nestrovski). E que outro lugar poderiam
ocupar versos como
“Tempo e espaço eu confundo/
E a linha de mundo é uma reta fechada”?
E a linha de mundo é uma reta fechada”?
Com 89 anos e ainda com shows marcados, podemos
concordar que ele foi sem pena, pena teve quem ficou. Mas, diferente do que
previu o compositor, o que ele fez foi muito e não vai com ele, fica pra
história. A canção popular que nasce da noite para ocupar nossa tradição
literária, é tal qual o amor de descompassado de “Bandeira de Guerra”:
“Me admira ter vingado, quem
diria
Que fosse loucura pra mais do que um dia
Na verdade, quem diria
Que enxergasse a luz do dia
Que fosse loucura pra mais do que um dia
Na verdade, quem diria
Que enxergasse a luz do dia
Mas vingou e é coisa feita
Torto sim eu ostento
E ninguém me endireita”
Torto sim eu ostento
E ninguém me endireita”
Minha vontade é contrariá-lo ainda mais e dizer
que quem morreu foi o poeta Paulo Vanzolini. Porque, meu caro Paulo, poesia não
demanda pretensão ou linhagem, mas requer sim, paixão e muita teimosia.
(Letícia Genesini)
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