Sem rigor literário e lotados de clichês, Crepúsculo e Cinquenta tons de cinza lideram as listas dos livros mais vendidos. Busca por soluções antigas para resistir a um mundo sem padrões determinados ajuda a explicar o interesse do público pelas obras
A saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e a trilogia dos Cinquenta tons de cinza, de E.L. James, atraem leitores mundo afora explorando temas muito conhecidos: amor, virtude, libertinagem, masoquismo. Apesar de nenhuma das obras ser reconhecida pela qualidade literária, Cinquenta tons de cinza já vendeu mais de 40 milhões de exemplares em 37 países, e Crepúsculo já ultrapassou os 43 milhões – é um dos 10 livros mais vendidos dos últimos 50 anos, à frente de “clássicos” dos best sellers, como E o vento levou e O Diário de Anne Frank.
Como literatura de má qualidade consegue atrair tanta gente? Em 1748, muitíssimo antes do surgimento das listas dos mais vendidos, Denis Diderot publicou As joias indiscretas, e escandalizou a França com uma sátira sobre a sociedade da época, especialmente sobre os costumes libertinos. Mais tarde, em 1787, Marquês de Sade, com Os infortúnios da virtude, marcou a literatura com um novo erotismo. As obras mostravam o que falha na relação entre homem e mulher, e que não há entendimento entre os sexos, que não há completude – o que Lacan chama: “não há relação sexual”.
Séculos depois, na era do best seller, a saga vampiresca de Crepúsculo lidera as vendas mostrando justamente o contrário – que os pares se completam, que há uma harmonia entre os sexos. Há um culto à virgindade, ao sexo após o casamento, à maternidade como a coroação da vida conjugal – ou seja, um novo moralismo. Já Cinquenta tons de cinza traz “pornô para mamães” ao mostrar o relacionamento de uma jovem universitária virgem e um bilionário sadomasoquista.
Espicaçados sem piedade pela crítica especializada, os dois livros são mal escritos e cheios de clichês. Mas voltando à pergunta inicial: o que produz tanto sucesso? Uma possível resposta seria a avidez por produtos de consumo rápido, sem crítica, ligados a um universo infantilizado, a uma literatura mais imediatista. Quase uma versão literária do fast food. No caso dos Cinquenta tons, as leitoras se identificam com a mulher objeto de desejo e se deslumbram com a figura masculina que seria o príncipe encantado viril e perverso. Quanta contradição com os novos tempos! Afinal, os homens se tornaram mais femininos, menos provedores e mais frágeis.
Será que o medo e a insegurança provocados por essa mudança do mundo hierarquizado e com padrões rígidos para um mundo horizontalizado e sem padrões determinados poderia levar a um retrocesso, e a uma busca por soluções antigas e remédios conhecidos, como Crepúsculo eCinquenta tons? Esperemos que não e que frente ao novo saibamos arriscar e, por favor, apostar em literatura de melhor qualidade.
Como literatura de má qualidade consegue atrair tanta gente? Em 1748, muitíssimo antes do surgimento das listas dos mais vendidos, Denis Diderot publicou As joias indiscretas, e escandalizou a França com uma sátira sobre a sociedade da época, especialmente sobre os costumes libertinos. Mais tarde, em 1787, Marquês de Sade, com Os infortúnios da virtude, marcou a literatura com um novo erotismo. As obras mostravam o que falha na relação entre homem e mulher, e que não há entendimento entre os sexos, que não há completude – o que Lacan chama: “não há relação sexual”.
Séculos depois, na era do best seller, a saga vampiresca de Crepúsculo lidera as vendas mostrando justamente o contrário – que os pares se completam, que há uma harmonia entre os sexos. Há um culto à virgindade, ao sexo após o casamento, à maternidade como a coroação da vida conjugal – ou seja, um novo moralismo. Já Cinquenta tons de cinza traz “pornô para mamães” ao mostrar o relacionamento de uma jovem universitária virgem e um bilionário sadomasoquista.
Espicaçados sem piedade pela crítica especializada, os dois livros são mal escritos e cheios de clichês. Mas voltando à pergunta inicial: o que produz tanto sucesso? Uma possível resposta seria a avidez por produtos de consumo rápido, sem crítica, ligados a um universo infantilizado, a uma literatura mais imediatista. Quase uma versão literária do fast food. No caso dos Cinquenta tons, as leitoras se identificam com a mulher objeto de desejo e se deslumbram com a figura masculina que seria o príncipe encantado viril e perverso. Quanta contradição com os novos tempos! Afinal, os homens se tornaram mais femininos, menos provedores e mais frágeis.
Será que o medo e a insegurança provocados por essa mudança do mundo hierarquizado e com padrões rígidos para um mundo horizontalizado e sem padrões determinados poderia levar a um retrocesso, e a uma busca por soluções antigas e remédios conhecidos, como Crepúsculo eCinquenta tons? Esperemos que não e que frente ao novo saibamos arriscar e, por favor, apostar em literatura de melhor qualidade.
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