domingo, maio 29, 2011

PSICANÁLISE: AS LETRAS E AS MOLAS DO AMOR

Na semana passada, no Corpo de Formação em Psicanálise do IPLA, Elza e eu apresentamos uma aula com o título: As letras e as molas do amor.

A aula era sobre o capítulo "O amor e o siganificante" - do Seminário Encore (Mais, Ainda) de Jacques lacan - aula de 16 de janeiro de 1973.

Objetivo da aula:
Mostrar a busca de Lacan para construir sua Segunda Clínica, salientando as seguintes passagens:

- do sujeito do significante ao parlêtre;

- do velho amor ao novo amor;

- do significante ligado ao signo ao significante suportado pelas letras.

Não se trata de publicar aqui a aula inteira, mas sim, pinçar alguns conceitos importantes:

1) O SIGNO

O signo se diferencia do significante.

Exemplo clássico: Não há fumaça sem fogo.

Lacan: A fumaça bem pode ser também o signo do fumante.
Não há fumaça senão como signo do fumante.

O signo como efeito do funcionamento do significante.

2) A ESCRITA

Lacan partiu da afirmação: “O que se escreve é a letra, e a letra não se fabricou sempre da mesma maneira.” (p.64)

Ele pressupõe um conhecimento a respeito da história da escrita cuja extensão cubra desde sua invenção até seu uso atual pela matemática.

“Desde que a linguagem existe houve muita mutação da escrita”. (p.63)

3) A MIRAGEM DO UM

“Nós dois somos um só. É daí que parte a idéia do amor” (p.64) – Lacan diz que é uma forma grosseira de dar significado à relação sexual.

As pessoas querem se amar na identidade, na transformação de dois em um - a miragem do um.

É como se canta o amor nas canções: só vou se você for; não dá mais para separar as nossas vidas ... e por aí vai.

É o velho amor!

4) DA PRIMEIRA PARA A SEGUNDA CLÍNICA

Primeira clínica – O inconsciente estruturado como uma linguagem. A clínica do significante, da interpretação.

Amor - era justificado, em nome de.

Segunda clínica – O parlêtre. A clínica do gozo, da letra. O discurso analítico como novo laço social.

Amor - sem justificativa, direto, sem intermediários e sem limites.

Uma nova ética: conseqüência e responsabilidade.

5) O UM DA PSICANÁLISE

O Um da psicanálise não é o Um do padrão, do comum a todos, do congraçamento; o Um da psicanálise é o que sempre escapa à apreensão. É o Um da singularidade forçando a invenção e a criatividade. (JF: Seminário Um novo amor – 8/5/2002)

Para Lacan, o desejo do analista é o de obter a diferença absoluta, a singularidade. (Sem 11, p. 260).

6) A FUNÇÃO DA PRESSA E O TWITTER

Twitter - concisão dos 140 toques. Isso nos obriga a entender melhor o que realmente queremos dizer. Uma sessão de psicanálise lacaniana pode ser muito curta, porque se entende que não se chega necessariamente a maiores verdades falando por mais tempo.

(JF – entrevista para OESP, 23/5/2011)

7) O NOVO AMOR

É o amor que não tem intermediação. É o amor do encontro, é o amor da surpresa, do inusitado – sem lugar. É um amor incômodo. Não é o amor do pouso, é o amor da plataforma, que te acorda em vez de fazer dormir. É o amor que te irrita, por que não dizê-lo? É o amor que faz com que você encontre uma solução, uma expressão para ele. (JF - Programa Saia Justa/GNT - "O que é o amor?" - 31/10/2007)

Lacan evidenciou, para o nosso tempo, a possibilidade de um novo laço social que não se dá “em nome do Pai” – uma mudança radical no modo como uma pessoa ama. (JF: Seminário “Um novo amor” – aula de 3/4/2002).

8) VELHO AMOR X NOVO AMOR

É sempre recíproco - Não tem reciprocidade, mas sim, cumplicidade

Faz signo, relacionando-se com a identificação - Relaciona-se com a diferença

Tem a ver com o signo - Tem a ver com a letra

Demanda sempre mais amor, é narcísico - Dá aquilo que não tem

É intermediado - É direto, não mediado

Relaciona-se com a dimensão fálica - Relaciona-se com o gozo do Outro sexo, o gozo feminino.

Homens e mulheres têm formas de satisfação muito diferentes. Mas, o amor é sempre inadequado e bagunceiro.

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