Pulsão (trieb) - termo empregado por Sigmundo Freud em 1905 para designar o ato de impulsionar.
Definição: carga energética que se encontra na origem da atividade motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do homem.
Pulsão (trieb) não deve ser confundido com instinto (instinct) ou tendência (drive). O conceito de pulsão está estreitamente ligado aos conceitos de libido e de narcisismo.
Freud utilizou o termo pulsão pela primeira vez no livro Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, em 1905. Nesse momento pulsão era essencialmente a pulsão sexual. Na edição de 1910 desse livro, Freud define a pulsão como uma demarcação entre o psíquico e o somático:
Pulsão é a representação psíquica de uma fonte endossomática de estimulações que fluem continuamente, em contraste com a estimulação produzidas por excitações esporádicas e externas.
Freud diferencia pulsão sexual de instinto sexual. Para ele a pulsão sexual não se reduz às atividades sexuais, mas é um impulso cuja energia é constituída pela libido. Diferencia a pulsão sexual das outras pulsões. A pulsão sexual é composta da satisfação genital e da função de procriação.
Em 1914, a primeira dualidade pulsional: Freud opõe as pulsões sexuais (cuja energia é de ordem libidinal) às pulsões de auto-conservação (cujo objetivo é a conservação do indivíduo) - as pulsões do eu.
As pulsões sexuais encontram-se sob o domínio do princípio do prazer, enquanto as pulsões de conservação ficam a serviço do desenvolvimento psíquico determinado pelo princípio de realidade.
As pulsões sexuais podem ter quatro destinos: inversão, reversão, recalque e subimação.
A inversão pode ser exemplificada pela oposição sadismo/masoquismo e voyeurismo/exibicionismo. A reversão pode ser exemplificada pela transformação do amor em ódio.
Em 1915, no texto As pulsões e suas vicissitudes, Freud define as quatro características da pulsão: força, alvo, objeto e fonte.
- força ou pressão - é a própria essência da pulsão; é o motor da atividade psíquica.
- alvo - é a satisfação; pressupõe a eliminação da excitação que se encontra na origem da pulsão. Esse processo comporta alvos intermediários ou até fracassos, chamados de pulsões inibidas quanto ao alvo.
- objeto da pulsão - é o meio pela qual a pulsão atinge seu alvo. Pode haver o entrecruzamento das pulsões, isto é, um mesmo objeto pode servir, simultaneamente para a satisfação de várias pulsões.
- fonte das pulsões - é o processo somático, localizado numa parte do corpo ou num órgão, cuja excitação é representada no psiquismo pela pulsão.
Em 1920, com a publicação do livro Mais além do princípio do prazer, Freud apresenta um novo dualismo: pulsões de vida e pulsões de morte.
Freud teorizou o que chamou de pulsão de morte a partir da observação da compulsão à repetição. Chegou à hipótese de que existe uma pulsão, cuja finalidade é reconduzir o que está vivo ao estado inorgânico. A pulsão de morte tornou-se, assim, o protótipo da pulsão. Da ação conjunta e oposta desses dois grupos de pulsões (pulsões de morte e pulsões de vida), provém as manifestações da vida, às quais a morte vem por termo.
Freud, em 1926, declara que a doutrina das pulsões é um campo obscuro, até mesmo para a psicanálise: "A teoria das pulsões é, por assim dizer, nossa mitologia. As pulsões são termos míticos, portentosos em sua imprecisão".
Em 1933, nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, Freud sublinha que "a pulsão de morte não pode estar ausente de nenhum processo de vida". Ou seja, se há vida, há pulsão de morte.
Lacan, em seu Seminário XI, de 1964, considerou a pulsão como um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise.
Para Lacan, a pulsão increve-se numa abordagem do inconsciente em termos da falta e do não-realizado. Para apreender a essência do funcionamento pulsional, é preciso conceber o objeto como sendo da ordem de um oco, de um vazio, designado de maneira abstrata e não representável: o objeto a (o objeto do desejo). Para ele, a pulsão é sempre parcial.
Lacan definiu cincoo objetos pulsionais, aos quais chamou de objetos do desejo: seio, feses, falo, voz e olhar.
Se há algo com que se parece a pulsão é com uma montagem. É uma montagem que, de saída, se apresenta como não tendo pé nem cabeça. (Jacques Lacan)
(notas extraídas do Dicionário de Psicanálise - Elisabeth Roudinesco e Michel Plon - Ed. Zahar, 1998)
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