sexta-feira, agosto 31, 2007

BRASILEIRINHO - O FILME


O choro é a música brasileira por excelência, precursor do samba.
Sou fã do chorinho desde sempre, para ouvir, cantar ou dançar.
Neste filme-documentário, além de saber mais sobre esse gênero musical, podemos ouvir uma seleção de chorinhos maravilhosos, com intérpretes também maravilhosos.
Dentre os artistas que participam estão Yamandu Costa, Paulo Moura e a grande cantora Teresa Cristina.
Um filme para assistir e se deliciar. Atrilha sonora saiu em CD quando foi lançado o filme e é imperdível!
Vá correndo assistir - no Unibanco Frei Caneca.

quinta-feira, agosto 30, 2007

ERA UMA VEZ ...

Uma Galinha

Clarice Lispector



Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode­ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

sexta-feira, agosto 24, 2007

UMA TARDE INESQUECÍVEL


No ateliê de Paulo Mendes da Rocha.

A poesia do arquiteto é sintetizada numa maquete de papel sobre uma prancha.

Uma mágica se produz e nos faz sonhar.

Um castelo para uma rainha.

Um sonho que se mistura com realidade.

























Quando um trabalho de rotina é uma obra de arte.



quinta-feira, agosto 23, 2007

PIRACICABA INVENTA A BOITE FILOSÓFICA

A psicanálise foi o assunto dessa quarta-feira em Piracicaba, desde a tarde, com coletiva de jornais, revistas e TV, até a noite na boite badalada da cidade.


Jorge Forbes inaugurou o espaço cultural Dandy Cult com a palestra sobre o Cinqüentão - o verdadeiro adolescente, para um público de 280 pessoas, super interessadas. Após a palestra, as perguntas não cessavam e continuaram por mais uma hora, passando da meia-noite. Jorge Forbes, empolgado e atencioso, respondia a todos.


Foi-se o tempo em que o adolescente era um garoto, entre 13 e 18 anos, cheio de vontade de viver e um pouco desorientado. A adolescência mudou de faixa etária. Hoje, a pessoa entre 50 e 60 anos entra em crise com quase todas as suas escolhas anteriores: de amor, de trabalho, de amigos, de prazeres. Curiosamente, ela se angustia com tantos anos pela frente da vida prolongada nos dias de hoje. Viver mais é bom, mas não saber como, é duro. (JF)










Com Cyleide, do programa Tudo de bom, da Net-TV e com Mara, da revista Trifatto.







terça-feira, agosto 21, 2007

ANIVERSÁRIO DE MEU FILHO ANDRÉ

O que dar de presente de aniversário a um filho ausente? O telefone é pequeno. O abraço não contém. O beijo não alcança. O pensamento vai. A poesia fica. Uma seleção de Drummond:

Por quê?

Por que nascemos para amar, se vamos morrer?
Por que morrer, se amamos?
Por que falta sentido
ao sentido de viver, amar, morrer?



Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.


FELIZ ANIVERSÁRIO ANDRÉ!!!!

sábado, agosto 18, 2007

TODO MUNDO QUER AMOR


Jorge Forbes dá seu recado * :

Todo ser humano necessita de alguém que o incomode, que o desafie todos os dias. Quando acontece o encontro, um acorda o outro e é bom, as pessoas precisam de alguém que as retire do comportamento individualista.

A mulher deve ser "a pedra no caminho" do homem, como nos versos de Carlos Drummond de Andrade. É ela quem alerta o homem, porque ele é mais acomodado e ela é mais inquieta. O encontro faz com que os dois tenham motivo para reinventar a vida todos os dias. Mas felicidade dá trabalho.

Idealizar que o parceiro é a fonte da felicidade tem dois lados ruins:
1. Enquanto está sem par, a pessoa desvaloriza as outras conquistas da vida, que também são importantes, mas acabam passando despercebidas.
2. Se, por acaso, consegue que seu relacionamento amoroso atinja seu ideal de felicidade, está fadada a perder essa situação, já que nenhum relacionamento é ideal eternamente.

Tentar ser feliz é obrigatório. Realizar é uma sorte. Para chegar um pouco mais perto, aí vão alguns lembretes:
1. Não acredite em conselhos que tenham em sua composição a palavra "dever".
2. Esqueça regras pré-concebidas. As formas de satisfação a dois só podem ter uma regra – o comum acordo entre os parceiros.
podem ter uma regra – o comum acordo entre os parceiros.
3. Os parceiros podem contar todas as fantasias amorosas um para o outro: contar sempre, realizar quando der.
4. Jamais tente compreender a felicidade. É preciso suportar o inusitado dela, mesmo se você não compreende o que está acontecendo! Com medo de que a felicidade acabe, as pessoas ficam tentando descobrir a receita para repetir exatamente o que aconteceu, na tentativa de aprisionar o momento feliz. Mas toda vez que se constrói uma prisão, a felicidade acaba.
5. A base da felicidade é o novo, a originalidade. Ela é a possibilidade de viver fora do padrão e de reinventar a vida. Quem ousa tem mais chance de ser feliz.


A felicidade é poder manter algo dos 5 anos de idade e não ser taxado de débil mental. Felicidade é a força bruta do desejo, que dá o impulso para que as coisas se realizem.


Há sempre uma diferença radical entre dois parceiros: amor é o nome que se dá à ponte que recobre temporariamente essa distância entre eles. Mas a diferença sempre vai reaparecer, é inevitável. A felicidade é tênue, um encontro provisório. Não é standard, nunca é fixa.


Tratar a relação amorosa como um tapa-buraco para as dificuldades da vida é exigir demais do parceiro, que acaba tendo uma responsabilidade que desconhece e com a qual não pode arcar.

Não existe garantia. Todo amor é um contrato de risco e nisso reside sua graça e sua desgraça. Graça, quando contribui para aumentar o entusiasmo na vida. Desgraça quando deixa a pessoa desarvorada – a pior reação de uma mulher frente à perda de um amor, segundo [a escritora] Marguerite Duras.


Felicidade é uma responsabilidade pessoal e intransferível. Quem espera que o outro lhe traga a felicidade é porque se acomodou. Colocou o parceiro no lugar da mãe que levava o Toddy na cama.


Transformar amor em remédio é perigoso, felicidade não é artigo de consumo. A relação amorosa tem duas vertentes: a afetiva e a sensual. A afetiva é cuidado, segurança, companheirismo – é repetição. A sensual é invenção e nada tem a ver com o cuidar – envolve surpresa, uso sexual recíproco e tem uma vertente enigmática. Quando as pessoas estão carentes, tendem a desenvolver a corrente amigável e sufocar a sensual. Aí o amor acaba. Quem se preocupa demais com o dia-a-dia costuma fazer mal amor à noite.


Quando se gosta de alguém, a tendência é ficar vulnerável. Amar é suportar ser ridículo. A partir dos 30 anos as pessoas estão escaldadas, já tiveram decepções amorosas. Daí o medo. Mesmo assim, vale a pena arriscar novamente, ainda sabendo que pode se ferrar de novo. Mas se a pessoa só se ferra, é hora de desconfiar de suas más escolhas. Tem gente que tem prazer em sofrer.


A paixão pode ser chamada de felicidade, mas, quando se transforma em um ideal de vida, fica supervalorizada e representa um perigo. Fica bonito no teatro, mas é muito triste na vida real. Daí personagens como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Abelardo e Heloísa... Morreram porque tentaram eternizar a paixão. Quando os envolvidos querem manter intocável a paixão, quando não suportam mudança ou interferência, acabam selando um compromisso de morte.


* ( de uma entrevista antiga - dezembro de 2001 - para a revista Marie-Claire)

quarta-feira, agosto 15, 2007

UMA NOITE, DOIS EVENTOS

A CASA DA FAU DA RUA MARANHÃO EM FESTA


Paulo Mendes da Rocha autografa seus dois livros lançados na noite de 14 de agosto, na magnífica casa da FAU da Rua Maranhão.
Rodeado de alunos, colaboradores e admiradores, a noite foi de festa.
Paulo, incansável e com seu bom-humor característico,ficou até meia-noite distribuindo autógrafos para uma galera numa fila interminável.



Paulo, Helena e seu time de primeira.
















PALESTRA E DEBATE SOBRE PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS NA LIVRARIA CULTURA- nesta terça-feira


Mais um ponto para a pesquisa com células-tronco embrionárias. Os palestrantes deram um show e a platéia mostrou-se favorável à causa.
















segunda-feira, agosto 13, 2007

DEBATE: PESQUISAS COM CÉLULAS TRONCO


AGENDA OBRIGATÓRIA AMANHÃ - 14 de agosto, às 19h:

LIVRARIA CULTURA DO CONJUNTO NACIONAL

Mesa-redonda para debater a utilização em pesquisas científicas das células-tronco embrionárias humanas.

Mayana Zatz, José Eduardo Krieger, Jorge Forbes e a vereadora Mara Gabrilli participarão de uma mesa-redonda para debater a utilização em pesquisas científicas das células-tronco embrionárias humanas.

O evento, que faz parte da série Encontros com a Pesquisa - FAPESP.

COMPAREÇA.
VENHA PARTICIPAR DESTA LUTA.

quinta-feira, agosto 09, 2007

ORQUESTRA IMPERIAL






A abertura da FLIP 2007 foi uma festa dançante com a ORQUESTRA IMPERIAL e seus 17 integrantes. Ou seja, tinha tudo para ser dançante, não fossem as cadeiras que tomavam conta do espaço. Mas o grupo, muito animado, fez um novo show como bis para quem saiu das cadeiras e foi para a frente dançar.



Eles são um show!



Outro dia comprei o primeiro CD gravado peça Orquestra Imperial, CARNAVAL SÓ ANO QUE VEM, e desde então é só ele que fica tocando no som do meu Jeep. Aproveito o balanço do Jeep e dirijo dançando e cantando. As músicas, como num baile, têm os ritmos mais variados: samba, gafieira, bolero, cha-cha-cha, etc. As letras, em sua maioria são paródias, uma gozação.



Recomendo!

E para você curtir, selecionei duas delas:

Ereção

Yarusha

Bom baile!

quarta-feira, agosto 08, 2007

DÓI

Ferida

Augusto de Campos


fer
ida
sem
ferida
tudo
começa
de novo
a cor
cora
a flor
o ir
vai
o rir
rói
o amor
mói
o céu
cai
a dor
dói

quarta-feira, agosto 01, 2007

BERGMAN E ANTONIONI


O mês de agosto começa com luto no cinema.

No mesmo dia 30 de julho morreram dois grandes cineastas, criadores de filmes que marcaram a história do cinema da minha geração.

Ingmar Bergman, sueco, 89 anos.

Michelangelo Antonioni, italiano, 94 anos.

Com Bergman aprendemos o cinema-cabeça, a câmara lenta. Os filmes do Bergman faziam parte da conversa depois do cinema. Quem não viu e discutiu os filmes "Morangos Silvestres" (1957), "O Sétimo Selo" (1957), "Gritos e Sussurros" (1972), "A Flauta Mágica" (1975), "O Ovo da Serpente" (1978) e "Fanny e Alexander" (1982)?

Com Antonioni o cinema arte. Dos seus filmes, destaco "Depois Daquele Beijo" ("Blow-up", 1966), "Zabriskie Point" (1970) e "Profissão: Repórter" (1974). Blow-up é magnífico, um filme inesquecível. Foi seu primeiro filme em inglês e recebeu a indicação para o Oscar de melhor diretor. Mas só recebeu a estatueta dourada em 1995, num prêmio por toda a sua carreira.

Letícia me enviou um texto de Antonioni, falando de seu filme Blow-Up:

Em outros filmes tentei examinar a relação entre uma pessoa e outra, com maior freqüência a sua relação amorrosa, a fragilidade de seus sentimentos, e tudo o mais. Neste filme (Blow Up) nada disso tem importância. Aqui é a relação entre um indivíduo e a realidade - as coisas que estão em seu redor. Não há história de amor na fita, mesmo que vejamos relações entre homens e mulheres. A experiência do protagonista nãoé sentimental nem amorosa; antes uma experiência que se refere à sua relação com o mundo, com as coisas que encontra diante de si. É um fotógrafo. Um dia fotografa duas pessoas no parque. Um elemento da realidade queparece real. E é. Este filme talvez seja como Zen: no momento em que você o explica, você o trai. Ou seja, um filme que pode ser explicado com palavras não é um filme verdadeiro.(Antonioni para a Cahiers du Cinéma)

Então, vamos rever os filmes desse dois gênios. Eles falam por si só.