domingo, novembro 26, 2006

A CONVERSAÇÃO



Neste fim-de-semana participei de mais uma conversação clínica, realizada pelo Projeto Análise. Foi de uma intensidade, um salto analítico muito grande, para mim, e para os demais participantes, creio eu.

A conversação teve lugar na Pousada do Quilombo, em São Bento do Sapucaí, tendo ao fundo a pedra do baú. Uma região de beleza ímpar, de magia. O tema trabalhado: CORPO E RESPONSABILIDADE.

Mas, o que é uma conversação? Leia o texto de Jorge Forbes:


POR UMA ROSÁCEA

A comunicação visa dissipar o mal entendido, passar uma informação rápida e sem erro - usa-se a expressão: “informação segura” - a comunicação sonha com a língua universal, ela quer ser útil e suprir as necessidades. A conversação, por sua vez, é exercício do espírito através da palavra dialogada. Sua base foi Atenas, seu promotor, Sócrates. “A conversação - diz Marc Fumaroli em seu amplo estudo sobre o tema - se dá quando se aproxima ao grupo animado de Sócrates e de seus atenienses, ela se apaga quando se distancia de novo. Pode-se discutir, disputar, se entreter, trocar, papear, coloquiar, palavrear, em todas as épocas e em todos os lugares: entrar em conversação é, a partir de Platão, deixar esses modos bárbaros do discurso para entrar no natural da palavra humana, e reconquistar a luminosidade ática. É então que sem esforço reaparece, mesmo que sob formas de faíscas, um pouco do grande brilho do espírito socrático, um pouco da felicidade ateniense que é tranquilidade e liberdade, um pouco dessa ascensão filosófica que é retorno à casa, em casa, numa contemplação coletiva, mais perto da unidade, da verdade, da felicidade. Da multiplicidade dos interlocutores, de suas divergências, de suas dissensões , o espírito de Sócrates consegue fazer uma rosácea onde alguma coisa da unidade inacessível do verdadeiro aparece e, nela, uma felicidade de uma qualidade que nenhum gozo ou possessão mundana saberiam igualar.”


(Trecho de A CONVERSAÇÃO - como método de se manter orientado ao âmago da comunidade analítica, de Jorge Forbes, abril de 1998)

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