domingo, setembro 15, 2013

VIAJEROS DEL SUR

Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito. Assim falava a canção ....
Gonzalo é desses amigos, que guardo no lado esquerdo do peito. Longe, em Bogotá, mas sempre presente - no blog, no face, no e-mail, no pensamento, nas poesias, nas matemáticas....

Apareceu de moto, com sua mulher Gabriela, numa aventura de deixar qulaquer valentão de queixo caído: atravessando a América do Sul - de Bogotá para Foz de Iguaçu, passando por Peru, Bolívia, Brasil - desde o Acre até o Rio Grande so Sul, passando por São Paulo para matar as saudades.



As palavras não dão conta de exprimir a alegria de receber esse amigo querido. Lembrançs de 30 anos vêem à tona: México lindo y querido, Laranjeiras - no Rio de Janeiro, o ᴫº colóquio de matemática de Poços de Caldas ... 




Vale acompanhar sua viagem acessando o blog: Viajeros del Sur

E em poucos dias estarei me encontrando com seu filho Mateo, meu quase afilhado, em San Francisco. 

A vida dá voltas e sempre encontramos as pessoas que queremos bem - é o círculo da vida.

É por momentos assim que a vida vale a pena!!!!!

sábado, setembro 14, 2013

UM SOPRO DE VIDA

Relato de um caso clínico:

Edmilson, 16 anos, chegou à Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano – USP encaminhado pela Associação Brasileira de Distrofia Muscular – ABDIM, tentativa derradeira para trazê-lo de volta à vida. Ele estava muito fragilizado, resistente aos tratamentos propostos pela fonoaudióloga e nutricionista. Mostrava-se apático às propostas de intervenção e não tinha nenhum interesse pela vida. Tinha perdido dez quilos em um ano, sendo sete nos últimos seis meses – havia chegado ao seu limite. Toda a equipe da ABDIM apostava no tratamento psicanalítico como uma saída possível para Edmilson. Um exemplo de parceria da medicina com a psicanálise.
Falou pouco na primeira entrevista com Jorge Forbes e Mayana Zatz. Quase sem voz e sem forças, sua mãe, presente no encontro, falou por ele. Contou que o filho comia muito pouco, passava a maior parte do tempo deitado em casa, sem atividade. “Edmilson se entregou, não tem vontade de nada, emagreceu muito nos últimos meses”, desabafou a mãe. Forbes faz uma acolhida implicada: Diz que será feita uma experiência de três meses e colocou uma exigência: “Você terá de falar, dizer o que você quer, do contrário cessaremos o tratamento”. Com isso marca um limite, inscreve a dimensão do tempo, semeia um senso de urgência.
Antes de iniciar o tratamento, recebi um relatório da médica da ABDIM e orientações de procedimentos com o paciente, que assustou a todos pela gravidade: paciente portador de Distrofia Muscular do Tipo Duchenne, com um quadro clínico muito complexo, envolvendo a perda de força muscular, a insuficiência ventilatória, a miocardiopatia importante e o estado anorético que pode estar relacionado com um estado depressivo ou de pânico por sua fragilidade. Altura: 1,76m; Peso: 36kg.
Na primeira sessão recebi o paciente em sua cadeira de rodas, franzino, e, embora com voz baixinha, falou muito. Na entrevista com Jorge Forbes e Mayana Zatz havia sido notado um rebaixamento intelectual, que se confirmou quando ele falou de sua difícil experiência escolar. Frequentou a escola pública até a oitava série (tinha largado a escola no ano anterior), mas não conseguia ler, nem escrever. Fiz a grafia do seu nome e ele não reconheceu. Perguntei sua idade, mas ele não sabia. Olhei em seu prontuário: 16 anos. Ele sorriu e confirmou. Esse ato despertou sua curiosidade, um desejo de saber de si, abertura para sair de um alheamento. Efeito: na segunda sessão ele disse querer retomar aulas para aprender ler e escrever. Falou também do seu gosto pela música.
Para levar adiante a direção do tratamento inicialmente proposta, levando em conta seu rebaixamento intelectual, o trabalho psicanalítico teria como apoio a música e o envolvimento de Edmilson com a aprendizagem de leitura e escrita.
Por três semanas ele não comparece às sessões por causa de uma pneumonia. No encontro seguinte à sua alta no hospital, falou da morte de dois amigos da ABDIM e o quanto isso o afetou. Perguntei-lhe o que significava perder um amigo e provoquei-o a falar disso. O medo da morte foi um ponto importante do nosso trabalho. Antes estava enjoado e desacreditando dos tratamentos, agora queria acreditar novamente – o encontro com o real, com a morte, o chacoalhou. Em relação aos seus recursos financeiros também mudou de posição. Acusou a mãe de usar o dinheiro que ele recebia do INSS para ajudar na manutenção da casa e decidiu tomar conta do seu dinheiro para uso pessoal. Foi uma virada de 180º: responsabilizou-se por seu tratamento clínico e por seus recursos financeiros. Na próxima sessão fizemos um plano para Edmilson escapar da morte, com pontos elencados por ele. Mais que um plano, construiu um decálogo para a vida.
Edmilson gostava quando eu abria meu computador e colocava uns sambas pra tocar. Um dia apareceu com um aparelho de MP3 que havia comprado com seu dinheiro. Nessa sessão e nas seguintes tocava músicas que gostava, usando esse aparelho. Começou a sair mais e relatava-me passeios que fazia com o pai e com a família.
Uma alteração genética às vezes é mutação nova, não herdada. Era o caso de Edmilson, único da família portador da distrofia. Seus pais eram separados. Vivia com a mãe, o padrasto, o irmão mais velho e a irmã de seis anos. De sua história, contou que quando criança caía muito e seu pai achava que ele era preguiçoso, tratando-o sem paciência. Sua mãe não concordava com o marido, brigavam muito e se separaram quando ele tinha 10 anos – idade em que foi para a cadeira de rodas. Sua mãe, segundo ele, era muito estressada e foi quem sempre o levou aos médicos. O pai, “alegre, mas esquecido, não dá para confiar nele”, também tinha outra família e às vezes Edmilson passava os dias lá. Reclamava ainda que as pessoas não gostavam de falar com ele. “Escuto tudo o que falam, às vezes até finjo que não sei, mas sei de tudo”, afirmava.
Edmilson começou a cobrar consequência e responsabilidade dos familiares. Ficava aborrecido quando seu pai não cumpria com algum combinado e não ia buscá-lo. Um dia me pediu que eu fosse a ponte entre o seu pai e Forbes. Tocado pela primeira entrevista com o psicanalista, apostava que o pai também pudesse aproveitar de tal encontro, que lhe abriria a chance de fazer a vida diferente, ser mais feliz e passar a cumprir com seus compromissos. Mas, no dia da entrevista com Forbes, o pai não compareceu. “Eu sabia que ele não ia vir. Não dá pra confiar no meu pai, ele sempre foi assim”, desabafou o jovem. Querer trazer o pai para análise foi uma mostra de se colocar frente ao pai, uma forma de se assenhorar da sua vida.
As sessões seguiram ao som de músicas – alternamos samba, sertanejo, baladas românticas e até rock – e de poemas, que sempre me pedia para ler. Edmilson ganhou peso. As mudanças estavam cada vez mais aparentes. No campo amoroso já se arvorava a falar com meninas, com a filha de um amigo do pai, com a enteada do pai e paquerava as fisioterapeutas. O irmão mais velho também lhe dava umas dicas e aos poucos já não tinha tanto medo de se aproximar de meninas. No campo financeiro, as mudanças também eram nítidas. Escolhia o que comprar todo mês, roupas ou algum equipamento eletrônico, fazia passeios no shopping. Tinha planos de comprar um novo computador e viajar – adorava o mar. “Descobri que tem muita coisa pra fazer, pra ver”.
Edmilson queria ousar encontrar uma mulher. Dois anos depois de iniciado seu tratamento, completaria 18 anos. Engordou e a mãe não conseguia mais carregá-lo. “Estou bem. Meu coração está mais forte, mas preciso fazer dieta porque meu coração não vai aguentar se eu engordar muito”. Fez novos planos, como quem tem pressa, como quem não tem mais tempo a perder: voltar para a escola, cuidar melhor do seu dinheiro, ir a uma balada, sair mais, transar com uma mulher e viajar para uma praia. Pediu para o pai, de presente de aniversário, um encontro com uma garota de programa.
Numa sessão falou da tristeza pela perda de mais três amigos. Pediu que eu procurasse poesias e músicas que falassem de amor e no final da sessão um poema sobre saudade. Edmilson não era letrado – ainda não sabia ler, nem escrever – mas apreciava e se deixava tocar pela palavra poética.
Durante duas semanas não compareceu às sessões. Exames de rotina, uma gripe mal curada... No final de uma tarde de domingo recebi uma mensagem de um amigo dele, pelo Facebook, comunicando que Edmilson tinha morrido – após desmaiar em casa, chegou sem vida ao hospital. A morte, que rondava sua vida, desde antes de começar o tratamento, três anos antes, me surpreendeu. E os sonhos dele? Sua luta contra a morte, seu desejo de viver? 
A música e a poesia promoveram o ressoar; por meio de recursos sensíveis a análise despertou o racional. Ele pôde construir sua história a partir da evocação do sensível. Um sopro de vida.

Teresa Genesini
(link para a publicação no site do IPLA: Um sopro de vida - na newsletter O Mundo visto pela psicanálise 48)

sexta-feira, setembro 13, 2013

EDU LOBO - AUDITÓRIO IBIRAPUERA


O show comemorativo dos 70 anos de Edu Lobo em São Paulo, no Auditório Ibirapuera, foi um evento inesquecível - com participação de seu filho - Bena Lobo e de Mônica Salmaso. Acompanhavam  Edu Lobo os músicos Carlos Malta (flautas e saxes), Jorge Helder (baixo acústico), Jurim Moreira (bateria), Lula Galvão (violão) e Mingo Araújo (percussão). O piano ficou sob responsabilidade do Maestro Cristóvão Bastos, que também fez a regência de uma orquestra com 20 instrumentos de cordas.

No Rio Edu comemorou seu aniversário  no Teatro Municipal com participação de Chico Buarque, Maria Bethânia e Mônica Salmaso  (veja matéria do Estadão).

Assisti aqui em São Paulo, em companhia de meu grande amigo Gonzalo Bueno Angulo - que veio de moto de Bogotá, Colômbia, acompanhado de sua mulher, Gabriela. 

Gonzalo, que já curtia o Grande Circo Místico, quando estudava Matemática no IMPA - Rio de Janeiro, ficou exultante com essa surpresa. Foi uma noite memorável !!

Alguns videos escolhidos das canções do show:
E, para finalizar a música de Edu que traz as lembranpas mais antigas e mais queridas de uma época que vai muito longe ....


quinta-feira, setembro 05, 2013

DO CEMITÉRIO PARA A VIDA

Relato de um caso clínico:
Na Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano – USP, criada por Jorge Forbes e Mayana Zatz, há sete anos atendemos pacientes portadores de distrofia muscular e seus familiares.Constatamos que, embora o diagnóstico da doença seja um golpe, o sofrimento geralmente tem outra causa e a distrofia funciona como uma justificativa padrão.
Steves, paciente com Distrofia Miotônica de Steinert, é encaminhado porque estava com depressão – uma espécie de desvitalização melancólica – pela morte repentina da mãe. Chegou a ficar 20 dias sem tomar banho, sem ânimo para nada. Conta, na entrevista inicial com Forbes, que duas imagens não saíam de sua cabeça: a mãe entubada no hospital e depois, deitada no caixão. Passava os dias no cemitério sentado no túmulo da mãe, sem comer e chorando. Forbes o interpreta: Você está definhando. O Steinert não faz você ficar no cemitério; isso é uma opção do Steves. Essa intervenção o surpreende e o desloca; permite iniciar o tratamento, que dura um ano.
Nas primeiras sessões, Steves continua a queixa pela perda da mãe. Depois, ao dizer que gostava de contar piadas, peço que me conte alguma. A partir de então, conta uma piada a cada sessão, até que um dia, ao sair, esquece a bengala. Quando volta para pegá-la, diz: Logo vou conseguir entrar aqui sem bengala. Através do humor, do chiste, desloca-se o gozo do sofrimento pela perda da mãe para o “contar piada para a analista”.
Antes magro e abatido, aos poucos retoma o gosto pela comida e por cozinhar. Um dia chega com um presente: um pedaço de torta de frango, uma de suas especialidades.
Steves relata um sonho com sua mãe: está bonita, diz que está bem e recomenda que ele também fique bem. Agora as imagens dela no hospital e no caixão estão indo embora, vou ficar com essa imagem do sonho, diz. Começa a contar quanto falta para terminar o luto de um ano. Intervenho: Por que não diminuir esse tempo? Por que não 9 meses? A resposta: É mesmo. Vou mandar rezar uma missa de 9 meses e começar vida nova.
Começa fisioterapia e participa das festas de final de ano da clínica. Conta que está se desapegando de muita coisa: doa móveis velhos, faz uma grande faxina, troca coisas de lugar e muda o visual da casa. Fiz uma reviravolta em casa. Questiono: E quais são seus projetos? Responde que gostaria de voltar a estudar – quer fazer curso de informática. Faz curso preparatório e é aprovado.
A reviravolta continuou também no campo amoroso: Estou fazendo uma reciclagem na minha vida, um balanço – onde errei, o que foi bom, não quero começar relacionamentos só para não ficar sozinho. Antes achava que precisava da minha mãe para viver, depois achava que a solução era ter alguém para dormir e acordar comigo. Agora sei que sou eu o responsável, eu é que tenho que estar bem; não estou mais carente.
Na última sessão nos despedimos e ele faz um depoimento: Doutora, foi muito bom para mim esse tratamento. Se eu não viesse aqui, hoje eu não estaria vivo. Quando eu precisar falar, marco uma consulta ou então venho para lhe trazer um “escondidinho”.
A modificação na vida de Steves foi sair do estado de definhamento para aumento da libido, gosto pela vida. Fez a passagem da melancolia à elaboração do luto pela perda da mãe. Steves abriu-se para a vida; o encontro com a psicanálise deu nova perspectiva a ele.
Passados seis meses, a médica clínica do Genoma, me procura preocupada porque Steves não veio fazer o controle da distrofia; não conseguia falar com ele – estaria deprimido? Ligo para ele, que me diz: Doutora, a senhora me achou por acaso; corro muito, pois estudo, faço estágio, fisioterapia  e viajo nos fins de semana com a namorada. Tinham viajado de férias para uma praia no nordeste...
Assim, deu-se o percurso de Steves – do cemitério para a vida.
Como disse Forbes no texto Felicidade não é bem que se mereça (2009): ... para alcançar a felicidade é necessária uma boa dose de ousadia e coragem, e não se medir pela expectativa do que esperam de você. Em uma análise, felicidade é suportar o inesperado.

Teresa Genesini
(link para publicação no site do IPLA: Do cemitério para a vida - e na newsletter O Mundo visto pela Psicanálise 46)

terça-feira, setembro 03, 2013

PRA QUE CASAR?

 
Casar faz toda a diferença, mesmo que pareça ridículo proclamar o amor em público, em data e hora determinadas. Amor começa na palavra, mas só ganha sentido no corpo – analisa Jorge Forbes nesse artigo para a revista Gente IstoÉ.

clique para ler esse artigo de Jorge Forbes:  Pra que casar?

domingo, setembro 01, 2013

POEMAS DE LEONARD COHEN


 Sempre gostei muito das canções e principalmente das letras das músicas de Leonard Cohen.

Agora descobri seus poemas e gostei muito !

Selecionei este:


Assim como a neblina não deixa marcas
Na colina verde-escura
Meu corpo também não deixa marcas
No seu, nem nunca deixará. 


Quando vento e uivo se encontram,
O que sobra?
Assim é o nosso encontro,
Depois nos viramos e pegamos no sono. 


Assim como há noites que ficam
Sem luas, nem estrelas, 

Assim ficaremos 
Quando um de nós tiver partido. 

Leonard Cohen.