domingo, março 24, 2013

PSICANÁLISE E AUTISMO

UM MUNDO PARTICULAR – O autismo na era da indignação, excelente artigo de Luiz Fernando Vianna, publicado na Ilustríssima– FSP – domingo 17/3  convocou a psicanálise.

Alain Mouzat responde ao artigo num texto em que reflete sobre a  posição da psicanálise em relação ao autismo e dialoga com um jornalista-pai de autista: Psicanálise e autismo.

Leia aqui também:


A polarização do debate sobre o autismo e a psicanálise, alimentada pela produção de um filme antipsicanalítico mal-intencionado na França, ecoou no Brasil. O texto publicado em 17 de março na Folha de S. Paulo, por Luiz Fernando Vianna nos interpela e relança a questão: o que a psicanálise tem a dizer?  E um pai de um filho autista?
Um texto que começa falando da vergonha própria, sem rodeios nem jogos de encenação, exige o máximo respeito. De todos, mas principalmente dos psicanalistas.. Assim, o texto de Luiz Fernando Vianna, publicado na Ilustríssima de 17 de março me atropelou literalmente, pela qualidade da palavra que estampa o desejo que a anima a dizer o que é. O que é o autismo para um pai de um filho autista.

“Vergonha, luto e culpa”, enumera ele, são três afetos avassaladores, mas que têm de ser reconhecidos para poder se confrontar com o peso do real sem disfarces. Para um pai de autista, mas também para qualquer filhote do homem que nasce condicionado pela linguagem e pelas relações sociais. 
A “indignação” desse pai está longe do sentimento confortável das críticas de salão bem intencionadas, politicamente corretas, contra os políticos corruptos e as mazelas que afligem a sociedade. A indignação dele é a recusa do encarceramento do autismo nos discursos pré-formados, de uns e de outros, que não resistem minimamente à sua experiência.A sua indignação é o seu desejo de fazer reconhecer o singular de sua experiência, de não deixar diluir no universal da doença do “autismo” seu filho autista.Ele não ignora nenhum dos pontos em que se articula o debate atualmente.  Assim, por exemplo, a questão da origem da doença. Ele resolve rapidamente sua posição: o autismo tem uma origem genética mal identificada, em razão da multiplicidade dos genes envolvidos. No contrapé dos debates – a favor ou contra uma origem biológica ou da influência ou não do meio – ele não dá peso ao assunto. A recente introdução da dimensão epigenética na biologia não deixa de lhe dar razão: ela ameaça mandar esse debate  para a lata do lixo das discussões ultrapassadas. A partir de sua vivência, um pai de autista não tem nada a acrescentar. Para ele a questão não está aí. O conhecimento das causas pode por certo providenciar futuras esperanças, mas esse pai de autista não se sustenta nisso.Da querela dos psicanalistas e dos comportamentalistas, L. F. Vianna, fala de experiência própria, já tentou os dois.  Nenhum traz respostas. Dos psicanalistas, ele aponta por um lado a ineficiência, mas particularmente a incapacidade de responder pelo que fazem, vestindo sua ignorância de uma neblina entendida.  Dos comportamentalistas, ele aponta a ignorância do sujeito.Esse julgamento a partir da própria vivência lhe é confirmado pelo filme Le Mur, panfleto antipsicanálise produzido na França, do qual ele faz uma análise lúcida: má fé da diretora, mas também incompetência dos psicanalistas em responder claramente. Para nós, aliás, sobra a pergunta: afinal, a psicanálise tem de trazer uma resposta ao autismo?O pragmatismo – no melhor sentido, no sentido que Lacan falava da experiência da psiquiatria inglesa durante a guerra como “uma relação verdadeira com o real” –  de um pai vivendo a experiência do autismo do filho parece ainda mais claro na sua posição em relação aos discursos comuns. Luiz Fernando Vianna não fica passivo frente aos preconceitos na sociedade. Ele tampouco esperar solução das medidas legais, sempre orientadas pelas melhores intenções, mas sem consequências.  Ele sabe se localizar nos discursos oriundos da esfera autística: ele reconhece o que trazem os livros de autistas “geniais” sem alimentar esperanças desmedidas, e particularmente se revolta contra o “politicamente correto” que, positivando o autismo, pretende convencer que se trata de um presente do Céu.Não penso que a psicanálise ofereça uma resposta ao “autismo”. A psicanálise não trata “doença”, ela oferece uma via aos sintomas subjetivos, permitindo à pessoa se confrontar com seu real sem máscara nem concessões. O que esse pai de filho autista, no que seu artigo dá testemunho, parece ter conseguido.


(Alain Mouzat)

domingo, março 17, 2013

sábado, março 16, 2013

ENTREVISTA COM GUTO LACAZ



Entrevistei o grande artista plástico Guto Lacaz para o site do IPLA:

As livrarias têm dificuldade em classificar os livros de Guto Lacaz. Não sabem se é arte, se é brinquedo. É um inclassificável, como é um artista, que só é classificável por seu nome.

TG - O que faz sua cabeça? O divã?
GL – Eu mesmo. Aliás, este ano estava pensando em fazer psicanálise, mas sou eu mesmo que faço minha cabeça. Tento decodificar os problemas que me ocorrem, às vezes coisas pesadas, que tento resolver comigo mesmo ou com ajuda de amigos. Algumas coisas eu resolvo muito lentamente, às vezes em 10 anos, outras mais rapidamente.
TG – E o design?
GL – O design é a minha vida. Eu preciso fazer coisas, gosto de fazer sempre alguma coisa. O design me ocupa, me dá alegria, me dá o dinheiro para viver e para investir em meus projetos. Não sei viver sem o desenho, sem a construção. É o que me mantém vivo! Errei muito, mas, hoje, vejo que fui salvo pelas Artes.
TG – Fale do projeto do seu último livro – 80 desenhos de Guto Lacaz – lançado no final de 2012(*).
GL – Esse livro é resultado da minha colaboração para a revista Caros Amigos, onde comecei a convite do psicanalista Roberto Freire, e continuo colaborando até hoje.  Ao longo de 15 anos produzi cerca de 400 desenhos para a revista e selecionei 80 para o livro, que foi lançado em dezembro de 2012. Apresentei o projeto do livro a três editoras, mas não conseguia publicar porque elas não aceitam só desenhos, sempre querem que tenha algo mais. As pessoas não sabem como classificar um livro que só tem desenhos; tudo tem que ter um rótulo, como literatura, aviação. Nas livrarias não sabem em que prateleira colocar o livro. Não sabem se é infantil, se é para adultos – não sabem classificar.
TG – Não sabem se é arte, se é brinquedo. É um inclassificável, como são os artistas. O artista só é classificável por seu nome.
GL – Pois é, eles não sabem também que isso é um livro de arte. Sabem que é desenho, mas acham difícil categorizar.
TG – Você é designer, inventor, faz instalações. Como você se define?
GL – Eu sou arquiteto. Quando me formei, em 1974, não existia a palavra designer. Ela entrou oficialmente no mercado na década de 1980. Minha formação na faculdade de arquitetura foi bem aberta – aprendi fotografia, cinema, música contemporânea, desenho, comunicação visual, desenho gráfico, desenho de produtos – não ficava só na edificação. Foi a minha redenção. Tudo era possível, bastava ter um projeto e desenvolvê-lo. Depois de formado comecei a trabalhar com artes gráficas e depois entrei para artes plásticas. Minha base é o desenho, as outras coisas são consequências do desenho – posso pintar o desenho, construir o objeto desenhado, atuar a partir do desenho. Faço serigrafia, pintura, escultura ...
TG – O que você gosta mais?
GL – Gosto de ficar quietinho, desenhando. E depois gosto de mostrar, de me exibir. Sou tímido, mas preciso mostrar o que eu fiz. Quando eu faço uma exposição, lanço um livro, fico esperando as pessoas e se não aparece ninguém, eu morro. Ter uma ideia me dá um prazer imenso; adoro fazer o trabalho a partir dessa ideia e, depois, quero mostrar às pessoas e ouvir os comentários.
TG – Esse livro 80 desenhos, como você já disse, é resultado de um trabalho de 15 anos com o grupo do psicanalista Roberto Freire. Então, você pode dizer que tem uma relação com a psicanálise há 15 anos?
GL – Com a psicanálise mesmo eu nunca tive relação. Tive, por tabela, porque meu irmão, Carlos Roberto Martins Lacaz, é psicanalista junguiano. Eu fiz a parte gráfica da sociedade a qual ele pertence. Mas eu só prestava serviço à instituição, nunca tive a vivência da psicanálise.  Quando vejo publicações de psicanálise acho muito complicado, para mim é um universo misterioso.
TG – Você trabalha conosco, no IPLA, desde 2006, quando criou nosso logotipo. Como você vê esse trabalho desde então?
GL – Eu gosto muito, é divertido. É uma relação boa, sensível; trabalhamos com rapidez; é fácil.

(*) Guto Lacaz publicou 4 livros: 80 desenhos de Guto Lacaz, uma seleção de desenhos feitos para a revista Caros Amigos; Desculpe a letra, resultado de oito anos de colaboração para a coluna Joyce Pascowitch, da Folha de S.Paulo; Gráfica, resultado de trabalhos gráficos expostos no Centro Cultural São Paulo; e Homem Objeto, sobre artes plásticas. 



sexta-feira, março 15, 2013

NOTAS AO LÉU - POR JORGE FORBES


No embalo de uma semana religiosa, Jorge Forbes escreve notas ao léu


notas ao léu


Foi uma semana papal, papada pelo vizinho do sul. O número de piadas sobre o novo bispo de Roma dá a medida de nossa dor de cotovelo. Afinal, um Papa ficaria bem na paisagem de uma Olimpíada precedida por uma copa do mundo de futebol. Já pensaram a glória de um santo chute inicial da Copa? O Papa branco passando a bola para o Papa negro, Pelé?
PqP.

Não há mais infalibilidade nem no Vaticano. Devemos essa ao Papa emérito. Afinal, infalibilidade não se aposenta, uma vez que o Espírito Santo não tem idade. É bom para alguns psicanalistas que pensam o Passe (instrumento inventado por Lacan para julgar o efeito final de uma análise) como uma consagração, quando deveria ser todo o contrário: motivo de mostrar e de discutir a clínica e não artigo de fé. Que se abra ao franco debate a não a interpretações metalinguísticas, como tem ocorrido nos congressos.

Continuo pensando que uma forte doença do lacanismo é o lacanês. Com que prazer pessoas repartem o não entendimento. Deve ser muito confortável, pois, afinal, quando ninguém entende nada, não há erro, estão todos certos. E, pior, ficam orgulhosos do segredo escondido de suas ignorâncias. Pobre Lacan, que tanto suou para fazer um ensino com régua e compasso. Eu estava presente no dia em que Lacan dissolveu a sua Escola, frente ao que viu – à época - fazerem de seu ensino. E agora, José? Seria divertido que as pessoas compreendessem o que falam e seus interlocutores, o que escutam. Imagino o susto. Ainda me lembro quando a missa começou a ser rezada em português; muitos se decepcionaram de estarem compreendendo o que se dizia, com saudades do sanctus, do orate frates, do ite missa est.
Deo gratias.

(por Jorge Forbes)

sábado, março 09, 2013

MARTINHO DA VILA

Salve Martinho da Vila que completa 75 anos !

E com Monarco, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho E mais ainda:

terça-feira, março 05, 2013