sábado, maio 26, 2012

VELHICE PARA QUE TE QUERO? - A PSICANÁLISE PODE ANALISAR


O Café Filosófico convocou a psicanálise para analisar a questão do envelhecimento nos tempos atuais:  Jorge Forbes fez uma conferência - debate com o título: "Velhice para que te quero?" na sexta-feira, 25 de maio, na CPFL Cultura - Campinas, SP, dizendo como a psicanálise responde a essa questão saindo do lugar comum.

Forbes começou com esses versos de William Shakespeare:

O mundo inteiro é um palco

E todos os homens e mulheres não passam de meros atores

Eles entram e saem de cena
E cada um no seu tempo representa diversos papéis.
(Shakespeare)


Forbes descreve as 7 etapas da vida apresentadas pelo poeta - em que o ápice da vida era aos 40 anos de idade.

Em seguida lembra Heideger: um minuto de vida é idade suficiente para morrer.

JF continua: Uma preocupação do homem é saber o nome da morte. Para desenvolver esse raciocínio traz as 5 éticas/categorias trabalhadas por Luc Ferry:
1) A vida é natural: Para os gregos o mundo não deveria ter dúvida porque somos seres naturais - tal qual uma goiabeira, cada um de nós devia encontrar seu lugar na natureza e se ajustar.
2) O pensamento natural foi substituído pelo pensamento religioso - que oferecia outra vida após a morte e nos fazia todos iguais. Pressupõe a fé.
3) Uma nova transcendência que não seja a natureza e nem o Deus: o iluminismo. O saber - a razão - é colocado no lugar do divino. Quanto mais velho, o homem é mais erudito, mais feliz e mais sábio.
4) A era da desconstrução: todos os valores desmoronam. O filósofo Nietzsche pega seu martelo e quebra tudo.
5) A etapa final a que chegamos hoje. E com ela a pergunta: Há um saber para essa desconstrução? Há um modo de lidar com a morte? Luc Ferry propõe um novo humanismo - um novo laço social, que não é o religioso, nem a natureza e nem o iluminista. Jorge Forbes fala de um novo amor (Lacan falou disso, de um novo amor, no Seminário 20 - Encore) - um novo laço social que pede IR - Invenção e Responsabilidade.

Nietzsche instituiu o "amor fati" - o amor ao destino. Lacan fala do "´c'est ça" (é isso). Quando se chega ao "é isso" não há mais para quem se queixar. Todos nós nos vemos através do outro social, somos levados a responder ao outro social. Chega-se ao`"é isso" quando deixamos de fazer concessão ao outro social. Traduzindo em miúdos: fazemos concessão ao outro social pelo medo do ridículo - a resposta já foi dada pelo poeta (... todas as cartas de amor são ridículas (...) mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas ...).

Forbes dá três exemplos de velhos que inventaram um jeito singular de lidar com a velhice:

- Oscar Niemayer (104 anos) - continua trabalhando, criando e começou a aprender piano. Esqueceu de morrer!
- Fernando Henrique Cardoso (80 anos) - em seu último livro, "A soma e o resto", questiona o poder que ele mesmo exerceu.
- Chico Buarque (67 anos) - lançou um novo CD em que brinca com a diferença entre ele e a moça amada, como na canção "Essa pequena": ... meu tempo é curto e o tempo dela sobra, meu cabelo é cinza e o dela é cor de abóbora, mas sou tão feliz com ela ... http://youtu.be/ZRLayH21Gnk

Eles não tem medo do rídículo: não é ridículo aprender a tocar piano aos 100 anos; não é ridículo dizer que a capital não é Brasília, que está em todos os lugares; não é ridículo amar uma jovem de cabelos vermelhos quando seus cabelos são cinza ...

(JF lembra Roberto Carlos falando da música Detalhes: o importante é que enquanto eu canto os meus detalhes, vocês cantem os seus).

Esses três homens  (Niemayer, FHC e Chico) mantiveram a dúvida viva; inventaram soluções singulares. O mundo de hoje exige singularidades; quando não temos mais modelos temos pessoas - é uma questão de mudança de paradigma.

O velho não deve se acomodar à nomeação da morte. O novo velho é alguém que não foge do encontro, da surpresa, é alguém que suporta a contradição. Que tem uma postura ética - a responsabilidade por sua singularidade. Que não se preocupa com a compreensão, mas que o sentido faça um novo sentido para ele,  que ressoe em você, que te toque. Tá ligado?

quarta-feira, maio 23, 2012

LANÇAMENTO DO ACERVO ESTADÃO


Hoje foi o lançamento do acervo digital do jornal O Estado de S.Paulo - no Auditório Ibirapuera.
Muitas autoridades, jornalistas, escritores, artistas, publicitários, intelectuais foram comemorar a realização desse sonho - cono disse Silvio Genesini, diretor presidente do Grupo Estado.

Genesini e sua equipe preparam há dois anos esse feito que é um presente para o país, que benificiará estudantes, pesquisadores, historiadores - a história em notícias, fatos, fotos, vídeos - em 137 anos de existência.

Gilles Lapouge - escritor e jornalista francês - o mais antigo colaborador do Estadão (há 61 anos escreve no jornal) fez um belo depoimento sobre o quanto sua relação com o Estadão mudou sua vida. Para ele, qualquer evento histórico é antes de tudo geográfico.

Foi emocionante rever cenas que fizeram nossa história desde a primeira publicação - 4 de janeiro de 1875 - até hoje.

O Estadão esteve presente em todos os fatos que marcaram o século XX - só para citar alguns: a construção do Teatro Municipal (1911), o desastre do Titanic (1914), a fundação da USP (1934) e todo o movimento político nacional e internacional. Outro dado importante: Euclides da Cunha, repórter do Estado, cobriu a guerra de Canudos - e a reunião dos seus artigos deu origem ao livro OS SERTÕES. A apresentação da história no telão através das páginas do Estadão foi uma viagem desde o final do século XIX até o século XXI.

Vários artistas participaram da festa:

Arnaldo Antunes declamou "Poética" de Manoel Bandeira.
Arthur Nestrovski e Ná Ozetti apresentaram "Dizem que eu voltei americanizada" - de Carmem Miranda. Ana Cañas cantou "Chega de saudade".
Jair Rodrigues cantou "Disparada" e encantou o público com sua energia.
Dinho Ouro Preto cantou "Que país é esse/"
E Gilberto Gil encerrou a festa com "Pela internet"

Foi uma festa de arromba !

Para saber mais detalhes e ver o arquivo de fotos acesse os links do Estadão:

Abertura - com Silvio Genesini

Galeria de fotos

Sobre o evento de lançamento do acervo

60 instituições terão acesso ao acervo

segunda-feira, maio 07, 2012

CONGRESSO DE PSICANÁLISE EM BUENOS AIRES

O VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise - AMP 2012 em Buenos Aires teve uma programação intensa, de segunda-feira a sexta-feira – 23 a 27 de abril, das 9h às 20:30h, no hotel Hilton em Puerto Madero, à beira do Rio da Prata (uma região mais nova da cidade, com muitos restaurantes – muito agradável para caminhar).
Participantes



Foi o congresso com maior número de participantes – cerca de 800 membros e 1500 não membros, totalizando 2374 pessoas. Muitos argentinos, franceses, brasileiros e pessoas da América Latina em geral.

Havia duas livrarias do congresso – uma da editora Paidós e outra da AMP – com livros lançados recentemente, como a edição castelhana dos Outros Escritos de Jacques Lacan. Levei 9 livros novos de Jorge Forbes (Inconsciente e Responsabilidade) que foram vendidos imediatamente.

Programação

O congresso teve conferência de abertura de Judith Miller, seguido de Leonardo Gorostiza – Presidente da AMP e Flory Kruger – Diretora do VIII Congresso.

Depois se seguiram várias mesas, a maioria sobre o passe e com testemunhos de passe. Os testemunhos chamam muito a atenção das pessoas, que comentam depois os relatos, que deixaram de ser “pornográficos” – como se estivessem tentando acertar uma fórmula de transmissão.

Parece que todo mundo agora quer fazer seu testemunho – nesse congresso teve o primeiro relato de Graciela Brodsky. Os novos AE – Analistas da Escola, se sentem tão reconhecidos pela nomeação que não cumprem seu papel, de analisar a Escola, como se não pudessem criticar a quem os reconhece. Fica uma “panelinha” dos reconhecidos.

Além das mesas sobre o passe, havia as mesas de temas da atualidade, como a que participou JF. Não trouxeram novidades. A mesa mais interessante foi da de Jorge Forbes – As subjetividades na época da tecnociência – em que ele apresentou o trabalho “A ciência pede análise”. Uma diferença no congresso: pela posição não contrária à ciência, como era esperado dos psicanalistas, pela clareza do texto (curto e preciso), pelos casos que exemplificou – deixou claro como a clínica opera, os debates que participa em movimentos importantes no Brasil (como na questão das Células-Tronco). A mesa tinha 6 participantes e dois coordenadores. Foi o único trabalho que movimentou as pessoas, fez com que tomassem partido, que argumentassem, rissem – o mais aplaudido. No telão, uma imagem inusitada, mostrava, no caso da leitura de La Sagna – um trabalho denso, chato, difícil, que contrastava com o de JF – o cinegrafista fez um close dos dois, de la Sagna lendo e JF acompanhando “interessado e fazendo caras expressivas” – as pessoas se divertiam com a interpretação de JF.

Os brasileiros estavam orgulhosos do trabalho de JF, do IPLA, da nossa vanguarda. Gorostiza veio abraçar JF ao final, demonstrando claramente que havia gostado da apresentação. Uma nova fase – do orgulho pela diferença, por aquele que diz o que não temos coragem de dizer e de fazer.



 

A quarta-feira foi dedicada à jornada clínica da AMP – 10 salas simultâneas com apresentação de 8 mesas com 2 trabalhos cada uma, num total de 160 trabalhos – casos clínicos – apresentados.

Também havia programação extra, como a reunião com Judith Miller, Gorostiza e Eric Laurent sobre autismo. Parece que era uma reunião com pessoas convidadas, escolhidas de vários institutos, de vários países, para discutirem as políticas da psicanálise em relação ao autismo. JF me colocou na sala e eu fui a única pessoa de São Paulo que participei da reunião.

Teve ainda a Assembléia Geral da AMP em que os não-membros assistem numa sala ao lado pelo telão. Forbes se posicionou falando da carta que havia enviado a Gorostiza (que nos leu aqui no módulo) e Ariel também se posicionou em relação à posição da psicanálise e ciência, na direção que JF tinha se colocado quando da apresentação de seu trabalho.

Havia várias atividades à noite, incluindo futebol, aulas de tango, exposição de arte e a festa de encerramento, que foi muito animada. Lá todos bebem, dançam e festejam o “somos da mesma turma”.

O que ficou

Eu participei de quase tudo e gostei de ter ido. Confirmei o avanço lento da AMP em contraste com a vanguarda que JF coloca o Brasil, em especial o IPLA. Gostei de ver esse reconhecimento do trabalho de JF por parte dos brasileiros e da coordenação da AMP.

Principalmente, gostei de ver que Jacques-Alain Miller rendeu-se ao trabalho apresentado por Jorge Forbes, quando em sua conferência de fechamento do congresso fala que há dois dias (depois de 2 dias da apresentação do trabalho “A ciência pede análise”) ele se sentiu provocado a pensar nas desordens do real, a partir do discurso da ciência e do capitalismo. Fez uma conferência que é uma releitura (mais impostada) do que JF vem falando há tempos, também baseada em Luc Ferry, mas não citando nenhum dos dois.

Agora é trabalhar mais e continuar sustentando nossa diferença no IX Congresso em Paris, em 2014.

Galeria de fotos:

sábado, maio 05, 2012

PSICANÁLISE EM DEBATE - CAFÉ FILOSÓFICO ESPECIAL


A Cpfl-Cultura acaba de disponibilizar o Café Filosófico especial sobre o novo livro de Jorge Forbes, “Inconsciente e Responsabilidade – Psicanálise do Século XXI”. Na ocasião, a conhecida professora e escritora Leda Tenório da Motta, aluna de Barthes, estudiosa de Lacan e especialista de Proust, debate com o autor, depois de expor uma minuciosa leitura do livro. Foi quando, entre outras expressões provocativas, elogiando a clareza do texto, contrapôs: -“O lacanês é a ausência da autoria”. Você pode assistir clicando aqui.